CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, julho 11, 2010

BOMBEIROS DO AMAZONAS (IX)

O efetivo inicial desta corporação em 1961 era de quatro oficiais, oito sargentos, seis cabos e 28 soldados. Total – 45 homens, diante de 36 do ano precedente. Sobre as viaturas: dois auto tanques (carro-pipa, no popular), seminovos ou aproveitados, assim, nada novo no quartel do Monteiro.

Novamente o famigerado agosto. Dessa vez o sinistro ocorreu em âmbito nacional, quando o Presidente Jânio Quadros renunciou à presidência da República. Duas notas postadas no Boletim Interno (21 ago. 1961) abriram algumas questões.
O comandante recebeu “ordem superior” para dispensar por 12 dias o tenente Thomaz Monteiro. Qual a motivação? No tópico seguinte, o comandante passou o comando da CBM ao tenente Vicente do Nascimento, “por ter este Comando sido designado para compor a comissão de relações públicas do Presidente da República, durante a permanência do mesmo nesta Capital“. Eis os questionamentos: Janio Quadros viria a Manaus? Se positivo, quando?


Positivo. Janio Quadros viria a Manaus para presidir a Reunião dos Governadores Nortistas, programada para o período de 31 de agosto a 2 de setembro. Entre outros eventos, estava agendada a inauguração “das instalações da Compensa”, pertencente ao Grupo Sabbá.

O Jornal, 17 ago. 1961. Leonidas (à dir.) e Bernardo Cabral, ao lado


Para ultimar os preparativos, desembarcou em Manaus, a 15, o destacamento precursor. Na chefia, o major Leonidas Pires Gonçalves, do gabinete militar da Presidência. Lembrando ao mais novos que, no Governo Militar (1964-1985), no posto de general, este oficial viria comandar o Comando Militar da Amazônia. E, mais adiante, assumiria o Ministério do Exército, no governo José Sarney (1985-1990).
O Jornal, 21 ago. 1961


Enquanto organizava o calendário da visita do presidente J. Quadros, que ficaria hospedado no Palácio Rodoviário, o major Leonidas teve oportunidade de avaliar uma série de reivindicações, como a exposta no editorial de O Jornal (17 ago. 1961), intitulada - Um lembrete ao major Leonidas.


Não deu em nada, pois, no Dia do Soldado, o Presidente JQ abandonou o governo. E o restante da história do período segue contada em dobro.


Nesse 15 de agosto, Monteiro Filho reassumiu o comando, “em face do atual momento político nacional“. E, no mesmo Boletim, respondeu a questão sobre a dispensa do tenente Thomaz Monteiro, ao cassar a dispensa concedida, “em face da renúncia do Presidente da República, Dr. Jânio da Silva Quadros“. Diante da renúncia e de seus desdobramentos, os Bombeiros de Manaus passaram 14 dias de prontidão. Ainda em dezembro, havia elemento da Companhia conquistando as diárias do tempo passado sob aquele regime extraordinário.


O fogo, este sim, marcou presença em Manaus, apontando ao major Leonidas Gonçalves a penosíssima situação dos combatentes do fogo. “O Fogo destruiu Loja 4.400” (O Jornal, 15 ago. 1961), uma loja de referência, por isso, bastante frequentada.
Curiosidade: Um jipe dos Bombeiros Voluntários, em que viajava o Dr. Vivaldo Frota, titular da Delegacia de Segurança Pessoal, quando se dirigia à garagem da CERA, onde o Dr. Vivaldo ia solicitar o auxilio dos carros tanques ali existentes, colidiu com o ônibus Orlandino, ao alcançar o cruzamento da av. Joaquim Nabuco com a rua Ramos Ferreira. Felizmente não houve vítimas, apenas os veículos sofreram danos.
O Jornal (15 ago. 1961). Loja funcionando provisoriamente
na rua Marechal Deodoro

Agosto – supersticiosamente conhecido como o “mês do desgosto” – mais uma vez assinala, nos anais da vida amazonense, um acontecimento trágico, cujas proporções arrastaram para as ruas da cidade uma grande multidão, às carreiras, para testemunhar mais um espantoso incêndio.


Destruído o prédio das 4.400: Faz poucos meses, em Fortaleza, as “Lojas Brasileiras de Preço Limitado S/A“, poderosa organização comercial brasileira, perdeu uma de suas filiais. Ontem, à noite, perdeu, também, a de Manaus, que estava recentemente funcionando no prédio de número 206, da rua Marechal Deodoro, enquanto no seu local tradicional esquina da Sete de Setembro com a Eduardo Ribeiro, se iniciava a construção de um edifício sede, previsto com linhas modernas e expressivas. O fato consternou a todo o povo e especialmente os círculos comerciais por todos esses aspectos, sobretudo porque, de hoje em diante, quase uma centena de jovens amazonenses ficarão ao desemprego.


O expediente das Lojas 4.400 encerrou-se às 18 horas. Quarenta e cinco minutos depois um incêndio, dentro da noite, destruiu o estabelecimento, irrompendo no seu interior. Quando os “soldados do fogo”, soldados da Policia Militar, Bombeiros Voluntários, populares e comerciantes chegaram à Marechal Deodoro, as possibilidades de salvamento do prédio estavam praticamente, como realmente aconteceu, tolhidas.


Colaboraram igualmente, a SAME (emprestando escadas), a Petrobras (com alguns extintores pequenos), Prefeitura Municipal, funcionários da firma J. G. Araújo & Cia. Ltda., Polícia Civil, Polícia de Trânsito, jornalistas, fotógrafos, comerciantes, oficiais e praças do 27.º BC etc.


Presença de padres redentoristas: Além do Governador do Estado, em exercício, deputado Josué Cláudio de Souza, Prefeito Loris Cordovil, Chefe de Polícia, e tantos outros, estiveram no local, os padres redentoristas Patrício e Leão. Os sacerdotes rezaram no local, cumprindo ao mesmo tempo alguns ditames litúrgicos. Felizmente, não se registrou nenhum acidente, assim como o perigo do fogo alastrar-se por outros prédios foi imediatamente eliminado.
De fato, o desgosto do mês parecia insaciável. Apenas 48 horas depois, “Mais um incêndio” (O Jornal, 17 ago. 1961) convocava os bombeiros. Lá estiveram, somente os voluntários.

O fogo foi extinto pelos homens da Sociedade dos Bombeiros Voluntários que estiveram no local, sob a orientação do comandante Ventura. Entretanto, não houve vítimas e nenhuma casa foi atingida pelas chamas, graças à interferência do Corpo de Bombeiros Voluntários que agiram eficientemente.
Às 13 horas e 45 minutos de ontem a Delegacia de Segurança Política e Social, foi informada, através de um telefonema que havia um incêndio de grandes proporções no bairro de Petrópolis. Disse ainda o informante que três casas já haviam sido consumidas pelas chamas e que também havia diversas vítimas. A notícia logo se espalhou pela cidade. O povo ficou aterrorizado pensando no gigantesco sinistro que lavrou às primeiras horas da noite de segunda-feira última nas Lojas Brasileiras de Preço Limitado S.A., instalada no prédio 206 da rua Marechal Deodoro, destruindo totalmente aquela popular casa comercial.

Final de ano, antes das festas, outra desgraça: “Incêndio destruiu depósito de asfalto do Deram” (O Jornal, 6 dez. 1961). Repetiu-se a sequência do acidente do ano anterior, que matou o subcomandante dos voluntários. Nessa ocasião, foi colhido pela mesma fatalidade o próprio comandante (foto). Em uma das curvas da rodovia Manaus-Itacoatiara, após vencer mais um combate contra o fogo, o jipe dos voluntários capotou e, no local, morreu o comandante Ventura. Ao seu lado, tombou o voluntário Mário de Assis Sá, estudante da 3.ª série ginasial do Colégio Brasileiro, cumprindo o dever que havia abraçado espontaneamente.  
Origem do fogo: Trabalhadores do Deram operavam com asfalto, numa caldeira que comporta 10 tambores, quando verificou-se uma explosão. O fogo propagou-se rapidamente. Felizmente, ficou circunscrito aos 10 tambores, apesar da grande quantidade de asfalto existente no local. Isto foi possível, graças ao trabalho desenvolvido pelos Bombeiros Voluntários, trabalhadores do Deram e japoneses moradores nas proximidades do local. Os prejuízos somam a trezentos mil cruzeiros.A vida da Cidade, todavia, precisava fluir. Quase sempre em dezembro, como recompensa, o prefeito de Manaus reajustava os vencimentos dos servidores municipais. Nesta ocasião, o capitão comandante passou a vencer Cr$ 13.000,00, acrescido de Cr$ 2.000,00, como gratificação. O soldado, somente Cr$ 8.956,00!
Às primeiras horas da noite de ontem a cidade foi despertada pela notícia de que um incêndio estava destruindo uma usina de asfalto do Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas, localizada na rodovia AM-10 (Manaus-Itacoatiara).

Imediatamente, acorreram ao local as autoridades da Delegacia de Segurança Política e Social, bem como os abnegados Bombeiros Voluntários, à frente o destemido comandante José Ventura, além de membros da colônia japonesa, situada nas proximidades do sinistro - quilometro 40, da rodovia AM-10, onde o Deram mantém um depósito de asfalto.

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