Escola do Preciosíssimo Sangue, marca do bairro |
Este bairro sempre teve uma estrutura desigual, estranha, situado entre o asfalto da avenida e o covão do igarapé. A avenida Djalma Batista, obra do prefeito Jorge Teixeira, concretizou essa separação.
O texto da reportagem do jornal Amazonas Em Tempo (22 abril 1988), aqui compartilhado, divulga detalhes importantes sobre a história do bairro.
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Em 1948, a madre americana Julitta fundou, em
Manaus, o convento das Irmãs Adoradoras do Sangue de Jesus, através de recursos
vindos dos Estados Unidos. Em função da necessidade de educar as jovens que
faziam o noviciado, foi instalado o Ginásio Preciosíssimo Sangue, em 1953. Este
é um dos fatos marcantes da história do bairro de São Geraldo, que se tornou
altamente populoso, carente em vários aspectos, apesar de localizar-se em uma
área central da cidade e que sofreu uma significativa influência evangélica.
Ele chegou a ser chamado de bairro do Bilhar — em
função do grande número de casas do ramo existentes naquele período — e até integrar
o bairro de Nossa Senhora das Graças. Com a criação da igreja de São Geraldo,
erguida pelo padre redentorista Bernardo em 1948, o bairro passou a
denominar-se São Geraldo.
Composto, em torno de 60 por cento, por uma classe
média, — os 40 restantes compõem uma classe baixa extremamente carente —, o
bairro de São Geraldo é deficiente como os demais. Apesar de não se constituir
num bairro “violento ou perigoso”, ele necessita urgentemente, segundo os
moradores, de um box policial e, principalmente, de um posto de assistência
médica.
Escolas é o que não falta. O que falta, em termos
de educação, na opinião da Irmã Rosário — tem um extenso trabalho de educação
infantil no bairro —, é “vergonha na cara” dos dirigentes das escolas que não
oferecem um mínimo de estrutura para os alunos.
A urbanização, como um todo, é carente. O bairro
acaba se dividindo: na parte de cima, fronteiriça com a avenida Djalma Batista
as ruas são mais ou menos urbanizadas, habitadas pela classe média; na parte de
baixo, que faz fronteira com o igarapé da Cachoeira Grande (mais conhecido como
igarapé do São Raimundo), existe uma rede de esgoto altamente precária que
deságua no igarapé e é habitada por uma população carente que não dispõe de
escola, de alimentação e de emprego.
O “barrismo” (sic)
evocado por alguns moradores, acabou provocando divergências em uma única comunidade.
Para tentar integrar esse grupo, os moradores formaram a Associação dos Moradores
das ruas Santo Afonso e Pico das Aguas, que, por outro lado, sentiam-se
isolados do bairro de São Geraldo. Através da Associação a comunidade passou a
ser beneficiada com o Programa Nacional do Leite, que somado com os 100 litros
recebidos pela Associação Comunitária Maria Mattias, dirigida pela Irmã Rosário,
proporcionou uma alimentação razoável às crianças da área.
Da parte de baixo — composta em grande parte por
moradores da rua Santo Afonso e Pico das Aguas, as reivindicações referem-se à
construção de uma área arborizada, de uma rede de esgotos, um posto médico e um
box policial.
Nirley Cordeiro e Nairdi Nascimento, presidente e
vice-presidente da Associação dos Moradores das duas ruas, afirmam que enfrentaram
dificuldades em colocar em prática as necessidades do bairro, em função da
falta de apoio da própria comunidade e dos órgãos municipais. “Nós estamos meio
abandonados aqui. A manutenção do Centro Comunitário, a limpeza das ruas, somos
nós que mantemos. Está assumindo, a partir desta semana, uma nova gestão na
diretoria. Vamos esperar que melhore”, ressaltou Carlos Jorge Fausto, da diretoria.
Praticamente, essa “baixada” é composta por uma grande favela. Pequenas casas
de madeira construídas à beira do igarapé, que termina servindo de parque para
as crianças.
Seringal Mirim, foto da reportagem, hoje extinto. |
A grande vontade dos moradores da parte de cima, a
mais urbanizada, é a de transformar a área conhecida como “Seringal Mirim”, em
uma praça, uma área verde, ou até numa escola “uma coisa mais útil” na opinião
de Fátima Guedes, 33 anos. (...)
Um fato interessante no bairro de São Geraldo é a
consciência política dos moradores. Como sempre existem várias vertentes: as “Ribeiristas”
e as “Tomezistas Mestrinho”, entre outras. Segundo alguns moradores, a direção
que vai assumir a Associação é apoiada pelo deputado Tomé Mestrinho, enquanto
que a ex-diretoria estava aliada ao prefeito Manoel Ribeiro.
Estudei de 79 a 89 na escola de São Geraldo, saudosas lembraças deste tempo. Iamos muito a igreja que ficava ao lado, para correr na área da frente e também dentro para assistir aulas de religião lencionada pela irmã Helena. Acho que o prédio da igreja antiga não deveria ter sido demolido, pois fazia parte da história do bairro e Manaus.
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