Igreja de Educandos, 1946 |
Arthur Reis governou o Amazonas entre
1964-67. Conhecedor da história do Estado, o governador ao concluir a
construção de três escolas de ensino médio, deu a uma delas o nome de Estelita
Tapajós. Construída na outrora praça da igreja de Educandos ou de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, ali continua servindo a juventude educandense.
Estelita Tapajós foi escolhido para patrono
de uma Cadeira acadêmica. Meses atrás, o titular da Cadeira, Abrahim Baze, foi
encarregado de palestrar sobre o citado patrono. Em busca de subsídios,
dirigiu-se a aludida escola. Qual não foi a surpresa deste jornalista, quando
os alunos lhe asseguraram que possuíam a foto da Estelita Tapajós.
A falta de informações de certo levara os
dirigentes da Escola e aos educandos a esta ridícula conclusão. José Estelita Monteiro
Tapajós construiu sua arte na capital do Império, por isso, é fácil entender o
desastre narrado.
Por ocasião da escolha do nome desse
amazonense “esquecido em sua terra”, O Jornal elaborou o editorial que abaixo
vai transcrito.
UM FILOSOFO AMAZONENSE (*)
Estelita Tapajós |
O Governador
Artur Reis lembrou-se de Estelita Tapajós, que integra a tríade de homens
ilustres, cujos nomes crismarão os novos ginásios da capital, que funcionarão
nos bairros. Já nos ocupamos, em rápidas pinceladas, tanto quanto permite
a estreiteza de um suelto, de Márcio Nery, eminente médico amazonense, em cujo
ano centenário nos encontramos (10-03-1865), e de Dom Romualdo Seixas, o
celebrado Marquês de Santa Cruz, sacerdote e parlamentar paraense que tanto
batalhou, pela palavra e pela pena, em prol da criação da Província do
Amazonas, tendo sido o autor do Decreto, depois transformado em Lei.
Estelita
Tapajós foi o maior filósofo amazonense, ou a maior figura do Ama zonas no
campo austero da Filosofia, tendo publicado uma obra de mérito, os Ensaios de
Filosofia e Ciência (São Paulo, 1898). Como filósofo, abraçou conceitos e
pontos de vista de Tobias Barreto e Silvio Romero, aceitando o monismo
evolucionista de Hackel.
Dele escreveu
o eminente jesuíta padre Leonel Franca, em seu excelente compêndio de História
da Filosofia: "o essencial de suas ideias é o monismo haekeliano, com
modificações pedidas a Spencer". Estelita Tapajós deixou-nos ainda bons
estudos de Antropologia.
Foi feliz o
Governador Artur Reis em retirar da sombra ou penumbra do esquecimento um nome
que revelou ao país uma vigorosa cerebração de cientista, apaixonado cultor da
Filosofia, onde apenas sobrenadam, no Amazonas e no Brasil, os "rari
nantes in gurgite vasto"...
Já que nos
reportamos aos nomes que vão ilustrar os três novos ateneus amazonenses, por
uma associação de ideias, gostaríamos de sugerir, desta feita à Prefeitura
Municipal e à Edilidade, que se organizasse urna comissão competente, com
inclusão de intelectuais, membros do Instituto Geográfico e Histórico do
Amazonas, homens conhecedores da nossa História e do nosso De Viris tribus, para fazer uma revisão, que se impõe com imperiosa
necessidade, da nomenclatura de nossas ruas e logradouros públicos.
Enquanto a
cidade exibe ostensivamente em placas de ruas nomes de figuras inexpressivas,
que nada, absolutamente nada fizeram por Manaus ou pelo Amazonas, eminentes
vultos do passado, que se notabilizaram em benemerências, em favor da terra e
de nossa gente, até hoje não mereceram a menor consagração na cidade e no
Município em que tanto realizaram em prol da coletividade.
Ainda mais:
ficou moda em Manaus darem-se nomes de pessoas vivas a ruas e instituições, num
desrespeito flagrante e aberto a disposições vigentes no país. Não está certo,
devemos convir, tal procedimento. Além do aspecto ilegal, há outro não
despiciendo, inspirado em recomendações bíblicas: Lauda virum post mortem! (Louva o homem depois de morto!) — frase
tão do agrado do padre Antônio Vieira.
Nessa revisão,
sugerimos ainda que se especificasse na placa TODO o nome do homenageado, para
ficar sempre patente o culto à sua memória, no decurso dos tempos. Chamar-se
apenas "Rua Tapajós", sem o respectivo prenome, paira a dúvida no
espírito de quem passa: Torquato Tapajós ou Estelita Tapajós?! Mas esse assunto
ficará para outro suelto...
(*) O
Jornal, 25 março 1965
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