CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

segunda-feira, abril 14, 2025

BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS EM MANAUS

A ineficiência dos Bombeiros Municipais, na década de 1950, ensejou a criação da Sociedade dos Bombeiros Voluntários, fundada em 24 de abril de 1952. Era dirigida pelos lusos José Antonio Dias Loureiro Ventura, o comandante Ventura, e Constantino José Machado, subcomandante. A sede estava na rua Comendador Alexandre Amorim, bairro de Aparecida, também sede da empresa de Ventura. O empreendimento durou exatos dez anos, começando sua derrocada com a morte do subcomandante, sobre a qual a edição de A Gazeta (13 maio 1961) assim se manifesta:


Jornal A Gazeta, 13 maio 1961

Ontem, em Manaus, morreu um herói.

Que não o foi somente pelas determinantes de sua morte. Que não era apenas um relojoeiro. Um bombeiro voluntário. Um ator do teatro amador. Um português radicado no Brasil. Era um verdadeiro dínamo humano, desde 1918 – quando chegou a esta capital, se identificou com o dia-a-dia da terra que escolhera, dividindo suas energias com a profissão, com a missão nobre e heroica, com a arte, com o grêmio que une seus irmãos. Seu nome: Constantino José Machado. O português nascido em Leixões no dia 5 de outubro do segundo ano deste século morreu ontem, quando os relógios – que foram o seu ganha pão – marcavam as 19 horas e 30 minutos.

Num relance, talvez, se lhe passaram pela mente os acontecimentos mais importantes de sua vida irrequieta: o casamento com a sra. Rosa Gomes Machado, os três filhos (Altair, Ilos e Alda), a viuvez. O segundo matrimônio, a sra. Maria da Conceição, os outros filhos: Estefânia Maria, Antonio e Luzia. A sua genitora, as cinco irmãs, todas em Portugal. As suas atividades no rádio-teatro, na antiga “Festa da Mocidade” da Rádio Difusora, quando chegou a contracenar com famosos artistas brasileiros, como Pedro Celestino. O Luso Sporting Clube. O velho Luso, cujo corpo cênico dirigia. O incêndio na fábrica de sabão. O corre-corre que durante todo o dia colocou em permanente movimentação os Bombeiros Voluntários. Quantos incêndios já não ajudara a apagar? Só que este fora diferente. Fora o último. Um ônibus da Transportamazon interceptara a corrida que era uma constante na sua vida: matara-o.

O sr. Constantino José Machado era subcomandante da Sociedade de Bombeiros Voluntários. Em Manaus, além dos filhos e da esposa, deixou um tio, o sr. Antonio Pires, proprietário da casa “A La Ville de Paris”.

sábado, abril 12, 2025

ANÍSIO MELLO: 15 ANOS DE FALECIMENTO (1927-2010) -3-

Como programado, ocorreu ontem no final da tarde o encontro literário entre amigos e admiradores de Anísio Mello, para recordar o 15º ano de seu falecimento.
Os componentes do CLAM (Clube Literário do Amazonas) emprestaram a competência ao relembrar alguns poemas do saudoso poeta. Presente à festa, Zemaria Pinto recordou os passos do “pré madrugadense”, pois, no ano de 1950, Anísio acolheu no porão de sua residência os futuros criadores do Clube da Madrugada. Mauri Marques usou sua musicalidade para, mesmo à capela, reviver um poema. Tive o privilégio de abrir e encerrar a sessão, sob a titulação de Curador do evento. Grato aos nominados e a outros que abrilhantaram a homenagem ao multiartista Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello.
Elementos do CLAM e outros participantes e
o Curador do evento (abaixo)







sexta-feira, abril 11, 2025

ANÍSIO MELLO: 15 ANOS DE FALECIMENTO (1927-2010)

 Nesta data, faleceu em Manaus o artista plástico Anísio Taumaturgo Soriano de Mello (83 anos). Guardei dele uma galeria de apreciáveis lembranças, de suas obras, grande parte inacabada ou em fase de publicação. Agora que se completa o 15º ano da sua morte, articulei com o CLAM (Clube de Literário do Amazonas) um sarau para reavivar na cidade o nome deste multiartista, pois, além de artista plástico, elaborou prosa e versos, escultura, editoração de jornal, músico e instrumentista, e incentivou algumas associações de classe. 

Abaixo, o convite para a festa na Casa da Pamonha e a página elaborada pelo jornalista Evaldo Ferreira circulada no Jornal do Commercio.

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Edição de hoje - 11 abril 2025

  

domingo, abril 06, 2025

POESIA DOMINICAL DE ANÍSIO MELLO

A poesia deste domingo pertence a Anísio Mello que, na próxima sexta-feira (11), completa 15 anos de morto. A ocasião servirá para uma homenagem conduzida pelo CLAM (Clube Literário ao Amazonas). O poema produzido em São Paulo (20 março 1964), foi transcrito do seu livro (póstumo) Convite à Poesia (Manaus: Chá do Armando Edições, 2011). 

Anísio Mello

ALMAS INFANTIS


Não desenhei como os antigos

constelações, mas naveguei,

como navegam todos os poetas.

 

Olhando o céu vejo a árvore

e seus frutos são estrelas,

que minha mãe bondosa e santa

colheu para minha infância.

Minhas mãos transbordavam

na colheita feliz daqueles anos...

 

Olho o céu ainda hoje.

A árvore inocente não existe,

mas estrelas ou frutos

ainda brilham pelo espaço antigo,

como brilham as almas infantis. 

sábado, abril 05, 2025

ANÍSIO MELLO: 15 ANOS DE FALECIMENTO (1927-2010)

A próxima sexta-feira (11) marca o 15º aniversário da morte do multiartista ANÍSIO Thaumaturgo Soriano de MELLO. Lembrei a data ao pessoal do CLAM (Clube Literário do Amazonas), que prontamente assimilou a ideia e coordenou o programa de homenagem que se prestará ao saudoso mestre. Assim, a partir das 18 horas na Casa da Pamonha (Rua Barroso, 375) vai rolar o sarau comemorativo, quando se fará uma síntese da obra do artista, do competente artífice em vários ramos da arte. O texto seguinte extraí de um currículo assinado pelo próprio Anísio Mello.

Afranio Pires, óleo sobre tela, 1999

“Herdou dos pais a vocação pelas letras e pelas artes. E pintor, é músico, e é poeta", assegura o poeta Américo Antony, tendo participado de várias exposições nacionais e internacionais, conquistando láureas. Participou de várias exposições de pinturas, em São Paulo, e no exterior, conquistando a "Medalha de Ouro" do "Salão da França Livre", em Paris, em 1948, a convite da embaixada brasileira naquele país. Além de artista plástico, possui várias composições musicais e dezenas de livros publicados, versando sobre assuntos diversos: poesia, crítica literária, ensaios, folclore e linguística. Além dos livros publicados, possui farta bagagem literária inédita.”

quinta-feira, abril 03, 2025

L. RUAS: 25 ANOS DE FALECIMENTO (3)

 José Seráfico, destacado mestre de nossa Universidade Federal, escreveu em seu blog, homenageando ao padre-poeta L. Ruas pela passagem desta relevante efeméride. Segue abaixo esta manifestação, com meus agradecimentos. Aproveito para informar - a quem possa interessar - que a arquidiocese de Manaus programa para este final de mês uma Missa pela alma do saudoso padre Luiz Ruas. 

Capa do livro

Ruas e seu mundo


 

·         De Roberto Mendonça, L. Ruas - Itinerário de uma vocação é rememoração justa e indispensável. O livro homenageia um intelectual e sacerdote que faz falta no cenário destes conturbados dias. O editor deste blog foi aluno do Padre Ruas, em curso realizado na Escola de Serviço Público do Estado do Amazonas, a ESPEA, descriada quando se iniciava o processo obscurantista que temos a infausta experiência de testemunhar. Ruas ministrava aulas de Psicologia. Na missa de 1 de abril, na Matriz de Manaus, será rendido preito ao sacerdote e professor amazonense.

terça-feira, abril 01, 2025

L. RUAS: 25 ANOS DE FALECIMENTO (2)

 Hoje (1º de abril), completam-se 25 anos do falecimento do padre-poeta L. Ruas (Luiz Augusto de Lima Ruas), autor de Aparição do Clown, longo poema religioso, editado em 1958. Intentei realizar uma homenagem pública ao poeta, porém, fracassei. Lamento, mas a direção da arquidiocese de Manaus – procurada - não acolheu minha pretensão. A fim de reverenciar ao poeta, reproduzo (com ligeiras correções) o texto próprio que incorporei ao livro L. Ruas: poesia reunida (2013).

Minha paixão por L. Ruas

Possuo um raro privilégio: o vínculo escolar com o padre Luiz Augusto de Lima Ruas (L. Ruas), quando matriculado no Seminário São José, de Manaus. Ali, em 1956, alcancei o padre Ruas no frescor de sua juventude, ordenado sacerdote dois anos antes. Sapiente e entusiasmado demais com sua vocação, liderança comprovada em qualquer reunião de seminaristas. Versado em diversas matérias curriculares, ensinou aos futuros padres ou não de línguas vivas e mortas (latim e grego), passando por Gramática e Literatura Brasileira, Filosofia e Teologia. Seus inúmeros alunos da Universidade Federal do Amazonas lembram-se dele como mestre em Psicologia. No Seminário, ainda adolescente, não tive capacidade de auferir a ciência que dele emanava. Recebi de suas mãos o majestoso livro — Aparição do clown, longo poema religioso, quase indecifrável, de certo um marco na literatura amazonense. Mas, tudo isso somente compreendi décadas depois.

Em 2004, a cidade comemorava vários cinquentenários: de sua ordenação sacerdotal; da criação do apagado Instituto Christus; da inauguração da Rádio Rio Mar e da fundação do Clube da Madrugada. Para minha admiração, em todas estas organizações, Ruas havia participado, e de forma categórica.

L. Ruas morreu em 1° de abril de 2000, há vinte e cinco anos, portanto. A fim de homenageá-lo no limite de minha competência, projetei e estou cumprindo o recolhimento de sua obra literária dispersa nos jornais de Manaus. A propósito deste empreendimento, o saudoso Renan Freitas Pinto designou-me com a incumbência esdrúxula de "curador da massa literária” de L. Ruas. Devo confessar que a faina foi dificultosa, emperrada e, às vezes, desanimadora. Foi-me, porém, benevolente, por ter-me permitido comprovar a sapiência e a erudição do meu saudoso mestre.

Enfim, ainda encontro, aqui e ali, fuçando em jornais da época, alguma contribuição dele. A Poesia Reunida de L. Ruas, aqui organizada, objetiva não somente assinalar sua morte. Mas, e principalmente, revitalizar a arte otimamente praticada por ele. Espero ter cumprido satisfatoriamente o ônus assumido, e que o leitor se satisfaça com este conjunto de "estrelas e de pérolas".

segunda-feira, março 31, 2025

L. RUAS: 25 ANOS DE FALECIMENTO

 Amanhã (1º de abril), completam-se 25 anos do falecimento do padre-poeta L. Ruas (Luiz Augusto de Lima Ruas), autor de Aparição do Clown, longo poema religioso, editado em 1958. Intentei realizar uma homenagem pública ao poeta, porém, fracassei. Lamento, mas a direção da arquidiocese de Manaus – procurada - não acolheu minha pretensão. Assim, vou republicar algumas páginas do mestre, para cumprir meu desígnio.

Nesta homenagem, começo com as palavras do professor Marcos Frederico (doutor em Literaturas de Língua Portuguesa), expostas no livro L. Ruas: Poesia Reunida (Manaus: Travessia, 2013):

“Luiz Augusto de Lima Ruas (L. Ruas) é, sem qualquer favor, uma das mais expressivas vozes da poesia do Clube da Madrugada, essa agremiação que renovou as letras amazonenses da década de 50, no século passado.

Sem exagero, diria que seu livro de estreia, Aparição do clown, cuja primeira edição consta ter sido em 1958, o coloca entre os poetas com participação eficaz na literatura brasileira. Entretanto, não é conhecido nos meios acadêmicos brasileiros, porque poucos são os artistas locais que conseguem “furar” o bloqueio dos meios de comunicação e ser divulgados nacionalmente.

Graças a Roberto Mendonça, esse pesquisador incansável da obra de L. Ruas, temos agora a totalidade da produção lírica desse vigoroso artista. Além dos poemas de Aparição do clown, encontram-se também reunidos neste livro aqueles que constituíram o Poemeu, livro que, tendo sido premiado em 1970, só encontrou a luz de uma publicação em 1985.

Afora estes, encontram-se os textos que, circunstancialmente, foram inseridos em outras obras. Se não bastasse este trabalho, Mendonça ainda coletou produções inéditas do grande poeta, um dos quais – o poema “Mar” – nos mostra uma faceta original de seu trabalho: as técnicas do Concretismo.”

A seguir, um dos poemas coletados em Poemeu ou O (meu) sentir dos outros. 

SONETO (*)

Estas aves vêm sempre, ao fim da tarde,

Descansar seus remígios agourentos

No pomar de onde colho doces frutos

Com que faço meus vinhos suculentos.

Elas vêm de bem longe. Me olham sempre

Com desdém. E nas asas trazem ventos

Que uma vez, já faz tempo, naufragaram

Minha nave que nautas desatentos

Dirigiam. E estas aves que me espiam

Lá de cima das árvores crescidas

No pomar irrigado com águas verdes.

Bem conhecem meu fim. Vencido nauta

Pus-me, agora, a plantar frondosas copas

Que sugerem veleiros em meu canto.

 

(*) Também publicado na Seleta Literária do Amazonas, de José dos Santos Lins (1966).

domingo, março 30, 2025

DA POLÍTICA AMAZONENSE

 Ao final do segundo mandato do governador Gilberto Mestrinho (1983-87), tudo indicava que o sucessor seria o vice-governador Manoel Ribeiro. No entanto, como os caminhos da política são imprevisíveis, foi eleito governador o jovem Amazonino Mendes (1939-2023), e para confortar ao Ribeiro, este foi eleito prefeito de Manaus (1985-88). A postagem mostra um "santinho" distribuído pelo prefeito Manoel Ribeiro.




domingo, março 23, 2025

POEMA DOMINICAL E UMA TRAGÉDIA

Há 98 anos, em 22 março 1926, em acidente ocorrido no rio Solimões, foi a pique o navio “Paes de Carvalho” da frota da Amazon River, violentado por incêndio que resultou em considerável número de mortos e feridos, e amargurou sobremaneira o Estado. Na capital, a revista Redempção circulou ao final daquele mês em Número Especial, delineando a tragédia, a partir de informes dos sobreviventes.

O magazine encerrou seu editorial pondo-se “genuflexa nesta comovida homenagem, se irmana em sincera dor, em religioso respeito, em piedade, em solidariedade...” Enfim, trouxe para expressar aquele pesaroso momento o poeta Raimundo Monteiro (1882-1932), que assim versou:

Página da revista
                                FLAMAS

 

Aurora. Vermelhão de incêndio. Fogo e brados.

Ardendo no claror das chamas aurorais,

Como um louco tritão incandescente, o “Paes

De Carvalho” deslumbra os peixes assustados!

Circundando o vapor flamívomo, queimados,

Alucinadamente os ecos matinais

Despertando ao pavor de dissonâncias tais,

Morrem, na grande luz, seres desesperados!

Flamejantes florões festoando à tona d’água

Recordam, na ignição primeva, frágua a frágua,

Milhares de vulcões abrindo em rubros lises!

Alvorece. Ao rosear da antemanhã, lá no alto,

No longínquo azulor do céu que tanto exalto,

Vésper têm por brandão mortuário os infelizes...

 

Raimundo Monteiro

sábado, março 22, 2025

CAÇA AOS JACARÉS

Seria como oficializar a matança de jacarés e de outros animais de couro aproveitados na indústria, em especial os felinos. O anúncio postado em O Jornal (entre 8 e 13 de janeiro de 1943), era encargo do comerciante J. Matarasso, sediado em Buenos Aires (ARG), tendo o escritório de Oscar Santos como representante em Manaus. Há ainda na folha os detalhes de como os animais deveriam ser tratados para obtenção de “1ª Qualidade”. Desse modo desapareceram os jacarés e outras espécies nativas.

Recorte de O Jornal, jan. 1946


domingo, março 16, 2025

POESIA DOMINICAL (21)

O Chá do Armando foi, enquanto subsidiado pelo saudoso Armando de Menezes, uma agremiação que, na sexta-feira, reunia os simpatizantes para conversas regradas com uísque e outros ingredientes próprios dos admiradores. Ainda em nossos dias, alguns remanentes deste sarau relembram esses encontros litero-alcoólicos.

O poema aqui postado me chegou às mãos sabe Deus como. Sei que muito já se registrou em prosa e verso sobre o Chá – codinome do uísque – e o patrono. A postagem relembra a presença dos saudosos poetas “chazistas” Almir Diniz e Jorge Tufic. Outro detalhe: o Chá visitou alguns endereços, o citado no poema é do Ideal Clube, então dirigido pelo falecido Humberto Figliuolo. 

Logomarca do referido grêmio

 

SONETO AO “CHÁ DO ARMANDO”

 

No “Chá do Armando” tem fraternidade,

todos falam o verbo coração.

Aí e aqui, nesta urbe ou no sertão

fortifica-se mais nossa amizade. 

Deste bar, na fronteira da cidade,

são lembrados um a um e cada irmão

e a todos nos envolve uma canção

falando de ternura e liberdade. 

Nossa irmandade, -- quando a tarde desce

de toda sexta e bem na hora da prece –

vai à tenda do Humberto. Na verdade 

Entre cantos, luzência e poesia,

o Armando a comandar tanta alegria...

no Ideal sobrevoa a fraternidade! 

Tufic e Diniz (a 4 mãos)

Morada do Sol, em 24.07.2016

sexta-feira, março 14, 2025

PALÁCIO RIO NEGRO: 1984

Gilberto Mestrinho havia assumido seu 2º mandato de governador em 1983, tendo por vice o empresário Manoel Ribeiro. Por essas curvas dos caminhos, fui levado para o serviço palaciano como subchefe da Casa Militar, então no posto de major. Em julho do ano seguinte, a sede governamental foi enfeitada para celebrar o aniversário do vice, já designado candidato para a sucessão de Mestrinho.

Na ocasião, o coronel “antigão” PM José Silva, morador da rua Visconde de Porto Alegre, ao lado da sede do IPASEA, atual do Amazonprev, dirigia-se ao quartel da Praça da Polícia caminhando. De tal modo que parou diante do PRN e realizou a foto que ilustra esta postagem, e me foi ofertada. A foto certamente foi feita com câmera simples, daí as deficiências mostradas.
Valeu, saudoso coronel Silva, pernambucano que tratava os subordinados por “caboco”.
Palácio Rio Negro, julho 1984

quarta-feira, março 12, 2025

CASO KIT-KAT (1965) 2ª PARTE

O crime do Kit-Kat já foi há muito esquecido, afinal são 60 anos que nos separam daquela manhã de domingo (24 de janeiro de 1965), quando, no centro de Manaus, o libanês Kazem El-Kibbe, proprietário da loja Kit-Kat, situada na rua Joaquim Sarmento com avenida Sete, matou ao conterrâneo Uthmam Yusuf, por desavença familiar. Houve uma troca de tiros ocorrida nas proximidades da loja de Kazem.

Dias depois, investigando o assassinato, o comissário Dinancy Barroso apresentou à imprensa as armas usadas no tiroteio. A postagem foi sacada do extinto O Jornal (28 de janeiro). Para saber mais, veja neste blog a postagem de 20 julho 2020. 


As armas do “Bang-Bang”

Sobre a mesas estão deitadas as armas de fogo do assassinato de domingo último, quando Kazem, munido de uma pistola automática 7,65mm, de fabricação francesa, matou a Uthmam, com tiro certeiro. Duas armas, calibre .45 entraram também em ação, inclusive uma “Star”, espanhola, de calibre 9mm 38(?), usada pelo irmão da vítima. A esposa de Kazem, ontem, prestou declarações na Polícia, dizendo ignorar o motivo do crime.

segunda-feira, março 10, 2025

LANÇAMENTO DE LIVRO EM 1965

Há 60 anos, em janeiro de 1965, ocorreu o lançamento de um livro que foi conhecido por Livro da “Cidade Flutuante”, aglomeração desmontada naquele período. Os jovens economistas Wilson Cruz e Celso Serra foram os autores, que contou com a apresentação do saudoso mestre Samuel Benchimol (1923-2002) e patrocínio do “desativado” Clube da Madrugada (movimento literário que vivia seu auge). A extinta Livraria Brito na rua Henrique Martins foi o palco do lançamento. E a foto jornalística permite distinguir, além do governador Arthur Reis (1964-67), o secretário de Educação José Lindoso (1920-93), o chefe da Casa Militar coronel PM Themistocles Trigueiro.

 

Recorte de O Jornal, 24 jan. 1965

O LIVRO DA "CIDADE FLUTUANTE"

Na Livraria Brito foi feito, manhã de ontem, o lançamento oficial do livro Aspectos Sociais e Econômicos da Cidade Flutuante, apreciável trabalho dos jovens economistas Wilson Cruz e Celso Serra, que teve o patrocínio do “Clube da Madrugada”.

A apresentação do livro, que apresenta excelente estudo e incansável pesquisa socioeconômica, foi feita pelo professor Samuel Benchimol, contando a solenidade com a presença de destacadas figuras da sociedade e das letras regionais, destacando-se o governador Arthur Reis (foto), que prestigiou o ato.

sábado, março 08, 2025

ARMAZÉM COLOMBO: MANAUS

Existiu na esquina (ao tempo era no “canto”) da av. 7 de Setembro com a rua Marechal Deodoro o Armazém Colombo, cujo slogan era “as três bocas de fogo contra carestia”. Desapareceu em 1973, após 68 anos de existência, em decorrência do desaparecimento de seus proprietários. Esta postagem extraída de A Crítica (19 mar. 1973), conta um tanto daquela empresa. 

Foto do referido matutino

Na parede uma faixa “Armazéns Colombo em liquidação. Aproveitem”, este anúncio marca o fim de uma tradição no comércio de Manaus. Os “Armazéns Colombo”, após 68 anos de atividade vão fechar suas portas, abandonando o tradicional canto da 7 de Setembro com a Marechal Deodoro. Durante muitos anos foi o ponto alto do comércio amazonense, onde qualquer um poderia adquirir confecções e perfumes franceses.

A ORIGEM

Os "Armazéns Colombo” surgiram em 1905, graças ao entusiasmo de um comerciante português, o fundador José de Souza Azevedo. Nascido na cidade de Batalha em Portugal, o comerciante veio para o Brasil e radicou-se na Amazonia, criando as “Casas Colombo”, uma pequena loja na 7 de Setembro quase esquina da rua da Instalação.  

A firma funcionava inicialmente num prédio de duas portas, onde existia também uma pequena alfaiataria. O proprietário residia na parte superior do prédio onde hoje está localizado o Palace Hotel.

Homem trabalhador e econômico, o comerciante José de Souza conseguiu ampliar seus negócios aos poucos, sempre com a colaboração de sua esposa, dona Armanda Parente de Azevedo. Era a firma Azevedo & Cia., proprietária das “Casas Colombo'”.

A história dos “Armazéns Colombo” apresenta diversas etapas. Logo no início quatro elementos faziam parte da sociedade: o comerciante José Azevedo, sua esposa Armanda; a filha Angelina de Azevedo Moura Ramos e ainda Antonio Batista de Carvalho. Aos poucos a sociedade foi sofrendo transformações sensíveis. Antonio, um dos sócios saiu. José faleceu em 1969; vitimado por um colapso. Sua filha Angelina desistiu. Ficou a esposa dona Armanda Parente, que faleceu em 1972. A organização ficou então sob a responsabilidade da senhora Janet Parente de Medeiros, irmã de dona Armanda. 

Dona Janet ainda hoje é sócia dos “Armazéns Colombo Limitada” e se encontra em Recife, acompanhando de longe o processo de dissolução da sociedade. Seus irmãos, dona Maria de Boaventura Batista, Hugo, Claudio e Maria de Lourdes cuidam dos últimos momentos da tradicional loja.

Os funcionários mais antigos da casa não sabem precisar quando o Colombo passou a funcionar na 7 de Setembro com a Marechal Deodoro. Dona Aurea Moraes Freire, de 54 anos, entrou na firma em 1937. “Naquele tempo nós tínhamos uma alfaiataria funcionando nó prédio e as três secções de vendas. As três secções:  Louvre, o Fogo sem fumaça e Colombo vendiam artigos diversos. O primeiro com perfumes e tecidos franceses; o Fogo sem fumaça com chapéus e outros artigos pequenos e o Colombo com artigos para homens e crianças. O prédio pertencia mesmo à dona Armanda Parente, e até há 25 anos ainda funcionou a alfaiataria, instalada nos altos do prédio.

Os Armazéns Colombo iniciaram em Manaus a entrega a domicilio. - Seu proprietário, José Azevedo, criou a figura do Papai Noel para entregar as compras na véspera de Natal. Ele ficava na porta da loja conversando com as crianças. Hugo lembra parte da história: Seu José comprou um carro americano, para entrega a domicilio. Foi um dos primeiros carros a circular em Manaus.

Os Armazéns Colombo graças ao espírito de seu proprietário conseguiram sobreviver na grande crise da borracha. Muitos estabelecimentos comerciais fecharam as portas e os Armazéns estiveram no caminho. No final acabaram vencendo a luta. “Seu” José faleceu aos 89 anos de idade. Sua esposa o seguiu em 1972. Começou aí o processo de dissolução da sociedade.

Na tradicional casa da [avenida] 7 de Setembro, os antigos funcionários, modelos da cortesia cabocla vivem os últimos momentos de uma loja que é tradição no comércio amazonense. O povo não mais vai ver “as três bocas de fogo contra a carestia”. O prédio vai ser vendido e existem diversos empresários interessados na transação. O Armazém Colombo encerra uma página curiosa e brilhante do passado pondo um ponto final numa tradição de 68 anos.

domingo, março 02, 2025

POESIA NO DOMINGO

 O poema de hoje pertence ao paraense de Abaetetuba, João de Jesus Paes Loureiro (1939-), que o publicou em Epístolas e Baladas (Belém: Grafisa, 1968).
João J. Paes Loureiro

 


 

CHICO,

escrevo esta carta,

neste Natal,

depois que a Banda passou.

Depois que a Banda passou

e com o ela passar,

passou tudo o que em mim,

é desejo de fuga,

acalanto de sono,

tentativa de adeus.

Escrevo

depois que a Banda passou

e, assim, com ela,

passou tudo o que em mim

é cidade interior

em cuja praça

– onde a infância ainda é uma verdade –

passa a banda atual de nosso outrora.

Chico,

todas as coisas passam

como a Banda

e como a Banda,

todas as coisas ficam.

Passam e ficam as coisas

de amor e desamor,

de dar e receber,

de ódio e medo,

que a vida é alguma coisa

que gasta e se acumula,

nos espinhos do onde,

na esquina dos porquês...

Mas há coisas que devem só passar:

o amor que oprime e não liberta

– embora com o oprimir

ainda seja amor –

o pandulho do orgulho,

o chaveiro do cárcere,

as glórias inglórias,

a bota na garganta,

o imposto silêncio ao justo

– o qual se silencia, não é justo –

o que é fome na infância.

(E há especialmente uma,

Chico,

uma infância com fome,

a que não viu a Banda e o Natal passarem...

E, no entanto, a Banda passou

como há de o Natal passar.

O homem sério que contava dinheiro,

voltou a contar juros e alugueis.

A namorada, que contava as estrelas,

voltou a contar o salário do mês.

A nossa gente sofrida

reencontrou-se com a dor.

A rosa triste que abriu,

despetalou.

E a grande angustia ordenou sua batuta

e a Banda foi baixando, baixando de som...

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

puxando nossa alegria.

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

deixando o que em nós sorria.

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

levando nossa agonia.

 

Há de haver um Natal

E a Banda passará

trazendo amor cada dia.

 

Há de haver um Natal

e a Banda passará

cantando de amor, tão bela,

que a moça triste

que é a nossa esperança hoje,

há de sorrir em todas as janelas.