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domingo, julho 02, 2023

SILOGEU AMAZONENSE HOMENAGEIA ANÍSIO MELLO (2)

No sábado (1º de julho) a Academia Amazonense de Letras prestou homenagem ao saudoso acadêmico Anísio Mello, com o lançamento do seu livro póstumo Estrela Viva, que foi distribuído gratuitamente. Os originais desta obra foram por mim recolhidos no abandonado acervo do imortal. A presidência da Academia, atendendo minha solicitação, o fez publicar. A página que acrescentei à obra - Resgate e cortesia ao artista, vai abaixo exposta.

Resgate e cortesia ao artista

 

Não tenho como desassociar o Chá do Armando do homem de tantos instrumentos (pintor, escultor, poeta, crítico, músico, contista, folclorista e, ainda, jornalista e inventor, segundo “inventariante” Arthur Engracio) Anísio Melo (1927-2010). Conheci-o mais amiúde quando aquela confraria litero-cultural-filosófica (de cunho beberativo), abrigou-se na residência dele, situada na avenida Joaquim Nabuco, em frente à Beneficente Portuguesa. O endereço em si assustava, porém, a camaradagem do anfitrião fazia superar as carências, as penúrias do casarão secular.

Rotineiramente servido à noite de sexta-feira, lá pelas tantas,   eflúvio alcoólico consentia aos chazistas superar os fantasmas multifaces e, assim imunes, confraternizar com os anjos e os artistas de vários matizes que por ali desfilavam. De igual modo, semanalmente, revíamos do dono da casa as suas composições artísticas e melódicas; as histórias de sua família e dos habitantes da floresta; sua produção em prosa e verso; os livros lançados e os “prometidos”; o quinzenário Correio do Norte, editado em São Paulo (SP) e o desastre do seringal em Eirunepé (AM). Enfim, a pujante saga do imortal Anísio Mello, que continuamente retemperava os partícipes do Chá e de quantos frequentavam sua residência.

Chazista (adepto do Chá) militante, aproveitei para me converter em seguidor emérito da Escola de Artes Ester Mello (que, fundada por sua mãe, Anísio fez funcionar até sua (dele) morte). E, porque residíamos próximos, foi dessa outra maneira que me tornei habitué de seu empoeirado acervo. Empoeirado, porém inestimável! 

Nada daquela desorganização, todavia, me surpreendia, afinal me ufano de minha fortuna em tais ambientes e naquele fui inegavelmente bem-sucedido. O tratamento da doença que acometeu Anísio Mello, em seus derradeiros momentos, levou-o à hospitalização. De modo lamentável, não houve recursos medicinais capazes de reverter o quadro, assim, para meu pesar, na tarde do domingo, 11 de abril de 2010, estava morto o admirável elaborador de tantas belezas. Empenhei tanto no velório quanto no sepultamento.

Então, retornei ao acervo do extinto. Espanadas as teias de aranha e a poeirada, deparei-me com preciosidades que o descaso, o infortúnio condenava ao entulho da cidade. Aqui é o momento de registrar um “salutar” pecado: levei do desprezado acervo o quanto pude. Ao inventariar o butim, relacionei ao menos quatro projetos de livros. E, no intuito de expiar a minha infração, já retirei das sombra dois desses propósitos: o primeiro foi Convite à Poesia, em 2011,  inaugurando as “Chá do Armando Edições” e lembrando o primeiro ano do desaparecimento do seu autor. O outro foi Hemetérto Cabrinha, poeta, que as edições do Governo do Estado e a Secretaria de Cultura deram vida, em 2015.

Surgiu a ocasião da edição do projetado terceiro livro – Estrela Viva, que a Academia Amazonense de Letras pelo seu centenário dispõe ao público. Constitui uma coletânea dos melhores poemas selecionados pelo próprio autor. A fim de que mais perfeito você possa assentir, compartilho a opinião de um especialista: “este livro de versos livres e bancos, mas de intenso ritmo e de acalorada inspiração, cheios de ternura, amor e encantamento, o que não abandona seus melhores escritos metrificados”.

Sinto-me recompensado pela produção desta obra e pela amizade, acima de tudo, que desfrutei do saudoso amigo Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello.

Descansa em paz!

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