Sede da Academia Amazonense |
Terceira parte da avaliação elaborada pelo poeta Alencar e Silva sobre esta agremiação cultural, que completa 62 anos no próximo dia 22.
Esta avaliação encontra-se no livro deste poeta, Quadros da Moderna Poesia Amazonense, publicado pela Editora Valer (2011).
PRELUCIDAÇÃO
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A Academia Amazonense sempre abrigou em seus quadros grandes luminares, como — para referirmos só alguns dos que já não estão entre nós — Heliodoro Balbi, Agnello Bittencourt, Leopoldo Péres, Nunes Pereira, Ramayana de Chevalier, Genesino Braga, Aristófano Antony, André Araújo, Djalma Batista, Mavignier de Castro, Pe. Nonato Pinheiro, João Mendonça de Souza, Mário Ypiranga Monteiro, entre outros tantos.
Ontem, como hoje, e como qualquer outra de suas congêneres, terá passado, naturalmente, por períodos luminosos e sombrios, não havendo, por isso, qualquer boa razão para se obscurecerem fatos que lhe sejam desfavoráveis (ou, mais provavelmente, a algum de seus membros), pois mesmo destes podem-se extrair preciosas lições. Por exemplo: que não se pode nem deve empecer os passos aos mais jovens, na tentativa (inglória e inútil) de impedir o advento do novo.
Todo artista sonha abrir o seu próprio caminho na floresta dos signos. Não pode conformar-se a soluções que não sejam as suas, a despeito de todas as disposições em contrário.
Efetivamente, nada do que se diz aqui a respeito da nossa Academia é fruto do maldizer ou malquerer, até porque muito nos honra ostentar o colar acadêmico e participar da ilustre companhia dos confrades. Em verdade, não falamos senão do que conhecemos. E conhecemo-la praticamente desde o início da nossa adolescência, quando, residindo nas suas proximidades, lá comparecemos várias vezes, fazendo companhia a nosso avô (Joaquim de Barros Alencar), homem culto e frequentador habitual dos saraus acadêmicos.
Dr. Adriano Jorge |
Numerosas são as lembranças que guardamos das sessões a que assistíamos. E de uma, em especial, presidida por Adriano Jorge, em razão do comentário ali feito por meu avô. Era a sessão de posse do acadêmico Félix Valois Coelho. Ia o Dr. Adriano conduzindo a sessão com certa mornidão, quando, de súbito, resolve mudar de tom e, abandonando as anotações protocolares, encara o auditório e diz: "Acabemos com essas frioleiras e falemos linguagem de gente!". Comentário risonho que nos foi soprado ao ouvido pelo avô: "Pronto, Neto, agora que ele perdeu a compostura, o seu discurso vai ganhar em brilho". E assim foi.
O Dr. Adriano Augusto de Araújo Jorge era médico humanitário, brilhante conferencista, cuja obra não foi retinida em livro, salvo, ao que se saiba, apenas um opúsculo, de cunho científico, sobre as propriedades da luz, e artigos publicados em periódicos locais.
Assistimos a outras daquelas sessões, presididas pelo mestre João Leda, o calepinista de Vocabulário de Ruy Barbosa e vernaculista de Os Áureos Filões de Camillo, e por Péricles Moraes, o ensaísta de grandes méritos de Figuras & Sensações e Legendas & Águas Fortes, e biógrafo de Coelho Neto e sua obra, Leopoldo Péres e A Vida Luminosa de Araújo Filho.
À porta de sua residência, na rua Henrique Martins, ostentava uma placa (única por mim vista ao longo da vida) esmaltada, com letras azuis sobre fundo branco: “Péricles Moraes Escriptor público". Esta é, a meu ver, uma das glórias que distinguem esse ilustre homem de letras (como ainda se dizia): a de ter-se erigido em escritor em seu meio e ter vivido honrada e exemplarmente do seu oficio. Escritor público!
Quantos, antes ou depois de mestre Péricles Moraes, terão tido tão alta consciência da própria benemerência e da importância e validade dos serviços prestados ou postos à disposição de quem deles necessitasse, como qualquer profissional liberal?
Estas notas preambulares não se teriam concluídas se não as aproximássemos do ponto em que se daria a nítida ruptura ou separação entre dois tempos: 1954 ano da fundação do Clube da Madrugada.
Antes dessa data, a poesia que se praticava ou cultuava em Manaus era em tudo igual ao que sempre se fizera ao longo de toda a nossa insipiente civilização, como se nada de mais importante fora feito pelos centros mais adiantados do país. Era o mesmismo. E ninguém queria ou buscava mudar coisa alguma. (Segue)
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