Nascido no Dia de São Pedro, o primeiro papa da Igreja, meu irmão Renato não poderia ter outro primeiro nome. Aos 72 anos, escreve esta postagem contando este fato, e realizando algumas considerações sobre a Vida. Não esquece nossa mãe, dona Francisca, a Chicuta da família, por isso recorta texto de seu livro-biográfico para recordar sua chegada ao mundo manauara de 1952. Meus cumprimentos pela data e pela sua dedicação à família. Que a existência lhe seja longa.
A BELEZA DA VIDA
29.06.2023
Nesta data,
especificamente neste Dia de São Pedro, gostaria de me identificar como
um dedicado aprendiz de todas as coisas belas da vida. Não pretendo ser um
presunçoso, apenas um sonhador, e nesse delírio vocacional presumo estar me
transformando numa obra de arte de Deus, à custa de muito desbaste, por um
cinzel afiado do tempo, esculpindo-me à Sua imagem. Durante e depois de longos
anos, confesso estar aquilatando a conduta humana digna; orgulhando-me de ser
um homem centrado nos valores teologais e praticante orgulhoso, como se fosse um
discípulo que aprendeu o jeito de amar, o amor caritativo, sem limites e
incondicional, embasado nos ensinamentos humanísticos de Jesus Cristo.
Pedro Renato |
Porém, percebo
que está cada vez mais difícil fomentar essa harmonia clássica dentro de uma
sociedade plural, e até mesmo no nosso microcosmo familiar. Entretanto, nunca
devemos desanimar, precisamos ser perseverantes com atitudes que elevam o nosso
nível de consciência; trabalhar sempre em favor da vida — a vitalidade e a
beleza da vida; ter a capacidade de estabelecer laços afetuosos sinceros;
abrir o coração com uma chave de dentro para fora, para expor sentimentos
nobres: amor e perdão; demonstrar cordialidade em nossos atos e disposição
constante sem nenhum egoísmo afetivo. Se perder a oportunidade, não desista,
basta reencontrá-la...
E nessa busca pelos valores humanos,
coloco-me a disposição para respeitar e tratar com carinho e zelo todas as
coisas que nos servem, até as pequenas coisas, animadas ou inanimadas. Como se
as coisas materiais fossem dotadas de vida. É dar a elas o seu justo valor. Busco
também o prazer em servir ao outro; apraz-me a oportunidade em servir e
apreciar o deleite do próximo, sem me sentir apenas um serviçal, pois fico
feliz quando percebo a elevação da dignidade em ambos. Deixo enfim, que o
sentimento de empatia floresça, para conseguir entender o mistério do outro e o
segredo de sua consciência. Esses ensinos nos foram transmitidos na célebre
imagem do lava-pés, o ato que antecedeu a Santa Ceia. Uma das ações mais
pragmáticas de Jesus, que enobrece o sentimento da humildade — Também vós
deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim
como eu fiz para vós”. (João 13:12-14).
Quando nos
tornamos idosos, percebemos que há uma necessidade maior de enfrentar o mundo
de forma bela; buscarmos, dentro de nós mesmos, atos de integridade e
tenacidade, deixando que a altivez cumpra um papel primordial para não esmorecermos
jamais. Para não sermos superados precocemente pelo peso dos anos nem pelas
circunstâncias cotidianas da vida.
É preciso
embelezar nosso dia a dia, sem excessos ou arrogância; aplicar a beleza
espiritual com nosso sorriso, para cobrir de leveza o nosso ambiente. É também
uma forma de gratidão a Deus que nos quer alegres e solícitos. Ser grato por
todas as telas em branco que recebemos a cada dia, para pintarmos com novas
cores ou com nossas cores prediletas, e desejar que o resultado seja digno de
apreciação do Criador. O avanço da idade biológica não pode blindar a admiração
pelas coisas bonitas, pelas esculturas humanas, nem ofuscar a visão da beleza
da Natureza. Ainda nos permite comportar-se como um menino olhando as
borboletas e seus matizes; admirando as diversas formas e cores das flores; espiando
a lua e as estrelas, entorpecido pela dimensão do universo; perguntando
curiosamente aos outros, para entender os mistérios e os porquês dessa vida. E,
em outro determinado momento com a maturidade de volta, preocupar-se com a
humanidade e com os rumos da civilização.
Apesar do otimismo, estamos sujeitos às
dificuldades e agruras dessa vida. Há, ao longo de nossa caminhada, fardos
indesejáveis que às vezes teimam em se opor ao nosso estado de paz espiritual
ou nosso projeto de felicidade. Mas, nada se compara ao sofrimento de Cristo.
Por isso, nesses momentos, devemos salientar a sobriedade da alma e a
conformidade com os desígnios de Deus.
Nesse dia
especial, aproveitando-me desse momento e do hábito de reflexão, quero deixar
registrada a minha eterna gratidão pela vida. E quando falo em vida, não posso
esquecer o sopro divino e a luz que me iluminou; não posso de maneira alguma deixar
de mencionar o ventre que me gerou. Minha eterna gratidão à Dona Francisca
Pereira Lima, que está comigo todos os dias, na minha mente, na minha alma, na
minha história. Um amor verdadeiro de uma relação vertical, que me dá a
satisfação de poder estar amando, e se realiza no próprio ato de amar... Uma
gratidão também ao meu pai e a todos os ascendentes que passaram pela minha vida
e deixaram suas sementes plantadas e seus dons, para que eu pudesse moldar a
beleza do caráter humano.
Pensemos no
Cristo Jesus, na sua missão e na sua glória. Viveu seu calvário, mas tinha
certeza da sua vitória da vida sobre a morte. De uma maneira bem reduzida,
também vivemos nossos calvários e não devemos lamentar. Ao final de cada
jornada diária “morremos” para no seguinte “ressuscitar” e reiniciar a missão,
que deve ser cumprida com gratidão contínua. Mesmo que a prática das fogueiras
juninas tenha ficado no passado, vamos acendê-las simbolicamente em nossos
corações; desejando vê-las queimar para alumiar nossa consciência em favor do
bem maior; para ver a presença de Deus em qualquer situação, como contraponto a
uma cultura ateísta tão presente na nossa sociedade.
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