CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, julho 29, 2025

A CARROÇA DO GELEIRO

 Compartilho do jornal A Gazeta, na coluna Manaus em Foto, de 11 março 1964, para lembrar um antigo meio de transporte, de mudanças e de vendas. Entre outros recursos. Falo da carroça que não mais se vê na capital amazonense. Mas, ainda existem em capitais do país. Lembro-me da mudança que a família realizou indo de Educandos para o Morro da Liberdade utilizando este meio de transporte. Para os garotos da casa foi uma farra, indo e vindo na boleia. A legenda relembrou os mais conhecidos geleiros e a fórmula de venda. Estou certo de que somente os setentões podem lembrar outros detalhes. De fato, é o progresso...

A carroça e o geleiro bem descritos no texto da legenda (abaixo)
 

Antigamente não era assim. Quando havia “gelo cristal”, as geladeiras de fabricação doméstica proliferavam e não havia as “Frigidaires”, apelido popular das geladeiras elétricas quando surgiram. O carro era diferente, coberto, revestido internamente de folhas de flandres para proteger o produto. E o dono da carroça, do burro e do gelo eram nossos patrícios de ultramar que fizeram fortunas no comércio, como o Felipe Geleiro, de sempre lembrada memória e espólios e o Alonso, outro campeador das ruas, levando frescuras às multidões.

Com aquelas grandes bolsas de couro presas ao cinto, onde guardavam o “tutu mimoso”, que amealhavam com prazer. Até nos estribos e nas rodas as carroças antigas eram diferentes. E a boleia também, com um pouco mais de conforto. Os estribos eram maiores e um pouco mais de atrás. As rodas eram grandes, de madeira, com aros de ferro, no estilo das boas carroças de antanho. Os donos da carroça, do gelo e do burro, invariavelmente, usavam chapéus de massa e somente estacionavam nas esquinas. Tinham uma balança, daquelas de pendurar, pra pesar o gelo, dando o desconto devido.

 Mas o progresso chegou, o gelo a domicílio perdeu seu cartaz, o Felipe Geleiro morreu deixando uma fabulosa fortuna e de tudo restou apenas o burro. Não é o mesmo, mas nada mudou no aspecto, perdendo apenas os antolhos. É que hoje em dia, mesmo sendo burro ninguém se conforma mais em olhar só para a frente: Daí...

domingo, julho 27, 2025

POESIA DOMINICAL (9)

 O poema deste domingo é obra do saudoso Sergio Luiz Pereira (1965-2015), que nos herdou duas obras (Cordas da Lira e Sopros do Oboé) e uma póstuma, donde recolhi a ilustração poética. Metais Sonoros é o título da obra será editada para relembrar o décimo ano da morte do Poeta, que ocorre em dezembro próximo. Dele escreveu Tenório Telles, em Estudos de Literatura do Amazonas (2021): “A morte precoce de Sergio Luiz Pereira interrompeu não só uma história de vida, mas o trabalho criativo de um dos mais dedicados e meticulosos poetas de sua geração.” E conclui: “É particularmente marcante na poética de Sergio Luiz Pereira o rigor formal, a linguagem elegante e a beleza que reveste sua lírica.”

 

Serginho, nos pincéis do Bjarne (2016) 


DOS CANTOS DA CIDADE

Amanhece o encanto já perdido.

 · Bandeira Tribuzi

 Quando o dia estender seus lençóis brancos

Quase nada seremos: carnes frias

Corpos comuns em tristes letargias

Contrário do que foram solavancos.

 

A tarde mais virá com ventos francos

Bater em nossas mentes, fugidias

Lembranças do que fomos nas sadias

Ondas de amor, sem trancos ou barrancos.

 

Quando a noite pesar em nossos passos

Cada qual mitigará os seus cansaços

À procura de encanto renovado.

 

Quem sabe não seremos só saudade

Nos quatro cantos da nossa cidade

     Banhada pelo gozo já apagado.

sábado, julho 26, 2025

IGPM NA POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS

 Notícia recolhida no jornal A Crítica (29 setembro 1978).

Com a finalidade de inspecionar a Polícia Militar do Estado do Amazonas, esteve em Manaus nos dias 23, 24 e 25 o General de Brigada Harry Alberto Schnarndorf, Inspetor-Geral das Polícias Militares do Brasil, órgão subordinado ao Ministério do Exército. A IGPM foi criada pelo dec. lei 667, de 2 de julho de 1969, que trata da reorganização das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros dos Estados, Territórios e Distrito Federal. Durante a inspeção realizada na PMAM, fez-se a acompanhar de oficiais pertencentes ao seu Estado-Maior. Nas fotos, vemos quando, passava revista à tropa e recebia a apresentação individual de oficiais da PM.

Uma indiscrição observada: o sobrenome do general, nascido em Santa Catarina, era bastante estranho para os oficiais nortistas. Desse modo, passei a semana juntamente com os colegas treinando o nome de guerra do visitante. No salão de honra, local da apresentação, perfilaram: (a partir da esq.) capitães Alrefredo e Roberto (autor desta postagem), majores Humberto e Osório (que olha com assombro) e o tenente-coronel Lustosa. De perfil, o general Schnarndorf! 

quarta-feira, julho 23, 2025

POLÍCIA FEMININA PMAM: INSTALAÇÃO

Há 45 anos – 7 de fevereiro de 1980 - foi criada a Polícia Feminina na corporação da Praça da Polícia. Adiante, em abril, foi instalado o Pelotão Feminino no quartel existente no entroncamento da Constantino Nery com Rua Recife e avenida Djalma Batista, caserna ora ocupada por um Batalhão do Corpo de Bombeiros. Esteve presente o casal governante, pois coube à dona Amine sugerir ao esposo governador, José Lindoso, a criação desta organização.

A solenidade de instalação integrou os festejos do 143º aniversário de fundação da Força Estadual, e a descrição do evento compartilhei do matutino A Crítica (07 abril 1980).


Após o encerramento da solenidade no 1° BPM, os presentes deslocaram-se para o antigo quartel da Polícia Rodoviária, onde foi realizada a solenidade de instalação do quartel do Primeiro Pelotão Feminino de Polícia. Às 10 horas foi realizada a cerimônia oficial de instalação do Quartel da Polícia Feminina que funcionará no ex-quartel da RP [em verdade, da PR (Polícia Rodoviária)] em Flores.

A primeira dama do Estado, D. Amine Lindoso, que foi a idealizadora da polícia feminina de Manaus, convidada pelo Cel. Raizer, cortou a fita e o governador inaugurou a placa comemorativa do ato. O comandante da PMAM, em um trecho de sua alocução aos presentes, disse que “aí estão vossas filhas, D. Amine Lindoso, são 32 jovens que irão prestar um serviço verdadeiramente maravilhoso para a comunidade manauara. Estamos muito alegres e satisfeitos porque hoje vemos concretizado o sonho objetivo de D. Amine Lindoso”.

Placa existente no Palacete Provincial

Depois, os convidados passaram a visitar as instalações do quartel e encerrando foi oferecido um coquetel aos presentes. 

terça-feira, julho 22, 2025

MAURO TEIXEIRA: DIA DE TENENTE


Dias desses, no arquivo da Biblioteca Pública esbarrei com esta foto. Por se tratar de um jovem fardado de policial militar, logo me despertou a curiosidade. Matei de pronto o fardado: tenente Ademar Raimundo Mauro Teixeira (1949-). Tenente Mauro ingressou na Polícia Militar, depois de concluir o NPOR (Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva), em outubro de 1972. Estava eu cursando o CAO, na PM do Ceará, de sorte que me encontrei com o tenente no início de 1973, ambos na Companhia de Trânsito. Aconteceu por pouco empo, pois em fevereiro fui transferido para o Corpo de Bombeiros.
Mauro permaneceu na Cia Tran com sua dedicação e competência, e bastante tranquilidade até para solucionar os embates do serviço externo, como demonstra a foto colhida no “Vivaldão”. Sua postura expressa a imagem que deixou gravada na corporação, ainda que tenha ali permanecido por pouco menos de dois anos. Trocou o quartel pela Universidade Federal e acolá se consagrou, pois conquistou o Doutorado e a eleição de vice-reitor da Casa de Ensino Superior.  

As fotos mostram dois momentos: a chegada na PM e o dia de comandante do policiamento do estádio, em abril de 1973. Há pouco mais de 50 anos. Vida longa, caro amigo Mauro.

Recorte do Jornal do Commercio, abril 1973

domingo, julho 20, 2025

VINICIUS DE MORAES (1913-80)

 Este artista de tantos predicados morreu há 45 anos, em 09 de julho de 1980, cujo passamento atingiu inúmeros admiradores em todo o país. Em Manaus, o respeitado e saudoso poeta Homero de Miranda Leão (1913-87), também conhecido pela atuação legislativa, escreveu o “Soneto para Vinicius de Moraes”, circulado no Jornal do Commercio, de 23|julho|1980, aqui transcrito. 

Recorte do Jornal do Commercio, de
23 julho 1980

Um festival de estrelas no infinito

Te recebeu, poeta, no esplendor

De tua arte suprema quando o amor

Tinha em teu peito a vibração de um grito!

Chegastes ao coração de um mundo aflito

Pela beleza de teu verso e canto;

E muitas vezes enxugaste o pranto

Das almas desoladas, em conflito...

Aedo iluminado na esperança

As noites e as manhãs na sua lembrança

Hão de guardar a imagem de tua vida!

E a terra, em cujo coração sonhaste,

Te exalta e glorifica na partida

Pelo deslumbramento que deixaste!...

sábado, julho 19, 2025

SECRETARIA DE SEGURANÇA: 1975

 José Jorge Nardi de Souza, quando major EB, foi comandante da PMAM no biênio 1964-65. Posteriormente, já promovido, Nardi conduziu a Secretaria de Segurança Pública (SESEG), no governo de João Walter de Andrade (1971-75). Ao tomar posse nesta função, encontrou no comando da Polícia Militar o coronel EB Mario Perelló Ossuosky (1975-79). Há poucos anos, Nardi retornou à memória da cidade quando seu filho – general-de-exército César Augusto Nardi de Souza – administrou o Comando Militar da Amazônia (CMA).

À frente, Ossuosky e Nardi (de paletó), ao fundo,
tenentes Jobim, Rocha, Abelardo, Célio, Ivens e
 Alcantara. Mais, o coronel Neper, atrás do secretário

A postagem sacada do diário A Crítica (16 maio 1975) mostra seu empenho quando assumiu a secretaria de Segurança, na visita a Polícia Militar.

O Secretário de Segurança, Cel. José Nardi, esteve em visita de cortesia à Polícia Militar e ao mesmo tempo pedindo solidariedade dos componentes da PM, na árdua luta da SESEG em prol do bem-estar da coletividade. O comandante da Polícia Militar, Mário Ossuosky, colocou-se à disposição de atender todas as perspectivas daquele órgão e, na oportunidade, expôs os trabalhos por ora desenvolvidos pela PM, em todos seus setores, Polícia Rodoviária, Corpo de Bombeiros, Rádio Patrulha, Cia Tran e Centro de Operações.

A seguir, o comandante da PM acompanhou José Nardi e o delegado-geral João dos Santos Pereira Braga a uma das dependências do prédio da Polícia Militar, onde foram exibidos “slides” enfocando a maneira como os componentes da PM desenvolvem suas respectivas tarefas e as necessidades sentidas por eles, devido à falta de alguns requisitos do referido órgão.

TRABALHO: A Secretaria conta com uma ação conjunta da Polícia Militar e Polícia Federal, em suas diversas missões em garantia da ordem e segurança da cidade, que se vê tomada pela onda de banditismo, devido à falta de uma estrutura e entrosamento entre alguns órgãos. Tudo isto foi sentido pelo novo secretário de Segurança, que ainda nesta semana, fez questão de sentir de perto todos os problemas que afligem os distritos e subdelegacias dos bairros.

“Partiremos para uma outra etapa e mudaremos tudo aquilo que contrarie o bom andamento da SESEG”, salientou, trazendo à tona o problema da falta de material humano e afirmando que está em seus planos colocar a Secretaria de Segurança, na altura de qualquer um outro órgão do Sul do país.

Para um melhor entrosamento entre a Polícia Militar e Civil, ambos órgãos expuseram os seus recursos e suas dificuldades em desenvolver um trabalho com maior amplitude. Uma análise mais profunda ainda vem sendo feita, enquanto a SESEG passa por outras reformulações.

REUNIÃO : Ainda sem data marcada, o Cel. José Nardi, juntamente com o Delegado-Geral, João dos Santos Pereira Braga, irá fazer uma reunião coletiva com a imprensa, pois a secretaria de Segurança espera contar com o apoio de todos, “porque somente assim, conseguiremos galgar nosso objetivo”, frisou.

 

quinta-feira, julho 17, 2025

SOBRE O EXTINTO “VIVALDÃO”

 O governador João Walter (1971-75) encontrou o extinto “Vivaldão” em construção, apesar de ter recebido a seleção brasileira em 1970. Logo o governador foi alcançado pelas comemorações do sesquicentenário da Independência, em 1972, que alcançou todos os Estado. Para sediar a “Taça da Independência”, o governo teve que arregimentar recursos. Para tanto, recorreu a um saudoso militar – capitão Alexandre, que passou pela Polícia Militar e se reformou no quartel do 27º BC. Morador do Boulevard Amazonas, foi proprietário de ônibus, enfim, um amigo respeitado. Um de seus filhos – Alrefredo – integrou o quartel da Praça da Polícia, dois outros – Albefredo e Alnefredo – foram professores.

 

 No Palácio Rio Negro, foi empossado nas funções de presidente da Administração do Estádio de Manaus (ADEM), o capitão Alfredo Alexandre de Souza, nomeado que foi pelo governador João Walter de Andrade, e por este saudado após a posse. Afirmou o governador que confia plenamente na capacidade de trabalho e dinamismo de seu novo auxiliar, para imprimir ao Estádio “Vivaldo Lima” condições ideais de funcionamento, com a complementação de todas as obras.

Na foto, além do governador e do empossado, o tenente-coronel Lustosa

                                                                              

Administração do Estádio de Manaus

Nota Oficial

Visando a compreensão do povo amazonense notadamente dos desportistas da Capital, a Administração do Estádio Manaus, consciente de suas responsabilidades, honra-se em prestar os seguintes esclarecimentos:

1 — Manaus será sede de uma das chaves da “Taça Independência”, reunindo 4 países que competirão, a partir do dia 18 de junho, no Estádio “Vivaldo Lima”;

2 — Mediante compromisso assumido com a Confederação Brasileira de Desportos, o Governo do Estado apresentará a praça de esportes com todas as obras externas concluídas, compreendendo a construção de pistas auxiliares, concretagem das rampas de acesso, asfaltamento de toda a área que circunda o campo e outros serviços inadiáveis para que o Estádio possa ser condignamente apresentado;

3 --- A execução das obras externas está a cargo do Departamento de Estradas de Rodagem do Amazonas, mediante convênio firmado com a ADEM, enquanto as da parte interna, também de grande monta, estão confiadas a SUPLAN. Esses serviços estão sendo realizados em três turnos, inclusive à noite, face à exiguidade do tempo, pois o prazo para a sua realização está praticamente reduzido a vinte e cinco dias, incluindo os domingos, sem contar com a constante incidência das chuvas que os prejudicam sensivelmente;

4 -- Diante desses fatos e da responsabilidade do Estado para com a CBD, esta Administração resolveu paralisar a realização de jogos no Estádio “Vivaldo Lima”, que somente será reaberto no dia 18 de junho, para as disputas da Mini Copa.

Manaus, 25 de maio de 1972

ALFREDO ALEXANDRE DE SOUZA - Presidente da ADEM

terça-feira, julho 15, 2025

DIRETOR DO DETRAN

 O então major Osório Fonseca havia inaugurado a Companhia de Trânsito da Polícia Militar, em 1972, e, ao ser exonerado, foi nomeado diretor do Departamento de Trânsito. Escrevi em outra postagem que o colega havia trocado o uniforme, agora de paletó e gravata, e o local de trabalho. As duas repartições eram contíguas, o Detran ocupava um prédio na esquina da rua José Paranaguá com a Floriano Peixoto, edificação ainda de pé, porém, pertencente à empresa de eletrônicos Ramson’s.  Era um tempo de organização do trânsito em Manaus, daí o motivo do encontro descrito pelo Jornal do Commercio (23 julho 1975).

 

Recorte do diário

O major Osório Fonseca (foto) manterá hoje importante reunião com os proprietários de empresas dos transportes coletivos de Manaus, afim de serem fixados os novos pontos de estacionamentos dos ônibus e os itinerários desses coletivos. O DETRAN, atendendo solicitação da Prefeitura, está enfrentando o sério problema e, segundo se anuncia oficiosamente, até o dia 28 o assunto estará definitivamente resolvido.

Também a nova sinalização das ruas da cidade está em estudos, bem como a maneira de proporcionar aos usuários dos ônibus melhor tratamento por parte das empresas concessionárias desses serviços públicos.

Do encontro de hoje com os donos das empresas de ônibus deverá sair um esboço das definições a serem posteriormente adotadas pelo DETRAN e pela Municipalidade.


domingo, julho 13, 2025

POEMA DOMINICAL DO "POETA DO AZUL"

Conhecido na literatura amazonense como o Poeta do Azul, Ernesto Pennafort certamente iniciou suas composições bem antes dos primeiros livros, marcados por essa tonalidade. Talvez seja o caso do poema de sua autoria, que ilustra a postagem dominical, foi publicado há 70 anos. Aconteceu no diário A Gazeta, edição de 23 de agosto de 1955. 


EMPÁFIA

ERNESTO PENNAFORT

(Do Grêmio Cultural JUVENTUDE MODERNA)

 

És •mulher, és formosa, és fascinante,

Em teu corpo há belezas e esplendores,

Teu sorriso é sempre algo deslumbrante

És como Citera, a Ilha dos Amores...

Ao te olhar, certo estou, diria Dante:

“Tens o perfume das mais lindas flores,

A meiguice do canto exuberante

De um pássaro de penas multicores...”

Mas não te julgues deusa, isso é quimera,

Porque não são as flores mais bonitas

-- Segundo um sábio de longínquas eras –

          Que exalam os aromas mais suaves,

E nem aquele que melhor gorgita

A mais vistosa de todas as aves.

sábado, julho 12, 2025

CORPO DE BOMBEIROS DO AMAZONAS (1876-2025)

Ontem, o Corpo de Bombeiros do Amazonas festejou a data de sua criação. No próximo ano será o jubileu do Sesquicentenário. Já escrevi páginas e páginas, que agrupadas constituem o livro Bombeiros do Amazonas: retrospectiva 1897-1998 (2013). Dessa sorte, para festejar a véspera do jubileu vou me limitar a expor algumas fotos, que considero relevantes na trajetória do grupamento dos “homens e mulheres do fogo” no Amazonas, agradecendo cordialmente ao Carlos Navarro, mestre da Fotografia em Manaus, autor dos registros.

FFOOGGOO!! 





    

quarta-feira, julho 09, 2025

PLÍNIO RAMOS COELHO (1920-2001)

O governador Plínio Coelho (1920-2001) cumpria o segundo mandato no Palácio Rio Negro, quando o Governo Militar (1964-1985) cassou seu mandato. Era início de março de 64, portanto, a mudança de regime estava em processamento. Plínio era conhecido como atirador de elite. A participação dele nesse certame ocorreu por este detalhe, não por se tratar do mandatário do Estado. A Gazeta (09 março 1964), apesar de mencionar outra foto, falhou.

Recorte de A Gazeta, 9 março 1964

 O governador Plinio Coelho foi a principal atração das provas de tiro ao alvo realizadas na manhã de ontem, no “stand” do 27 Batalhão de Caçadores, sob o patrocínio do Balalaika Clube, que na oportunidade cumpria mais um ano de fundação.

Ao lado do Chefe do Executivo amazonense (visto na gravura à direita em um momento de grande sensação da competição) alinharam-se outros grandes nomes do esporte de tiro ao alvo em Manaus.

No outro clichê, aparecem os vencedores das provas: Adelson Veras, Tenente Cavalcante, Helena Marques Jezzini e Francisco Santana. O governador ficou entusiasmado com a organização do torneio, havendo prometido dar integral apoio à realização dos vindouros, dos quais o mais próximo ocorrerá a 21 de abril, em homenagem a Tiradentes. A presença do titular do Palácio Rio Negro na competição foi recebida com aplausos.

segunda-feira, julho 07, 2025

PALÁCIO DO RÁDIO - MANAUS

 Até a metade do século passado, as moradias no centro de Manaus utilizavam casas, com uma só exceção, o IAPETEC (Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes de Cargas). O prédio, inaugurado em 1953, exibiu o primeiro elevador da cidade, porém, possuía uso misto, com salas comerciais e pequenos apartamentos, além da sede do próprio instituto. Somente dez anos depois, em 1964, surgiu um prédio de mesma altura do mencionado, com uma característica: exclusivamente de apartamentos. Trata-se do Palácio do Rádio, construído na avenida Getúlio Vargas, que ainda hoje pode ser observado; veja a foto que ilustra a postagem.



Recorte de A Gazeta, 10 jan 1964

A foto e a legenda sobre a inauguração do Palácio compartilhei de A Gazeta (10 janeiro 1964). 
 
Placa indicativa no prédio


UM EDIFÍCIO À ALTURA DO PROGRESSO DA CIDADE --

A fachada do edifício é, sem dúvida, uma das mais lindas que a cidade conhece. Executada em painel de madeira de lei envernizada, empresta beleza e graça ao conjunto. Fica na mais larga avenida da cidade — a Getúlio Vargas —, com vinte apartamentos, todos de frente para o nascente, cada um deles com sala-de-estar, três dormitórios, varanda, banheiro social, “hall”, copa e cozinha, quarto de empregada, banheiro de empregada e área de serviço.

Tem o privilégio de ficar próximo aos Grupos Escolares “Barão do Rio Branco” e “Saldanha Marinho”, ao Colégio Estadual do Amazonas, do Instituto Santa Dorotéia, do Ginásio Brasileiro, do hospital da Beneficente, do posto de serviço de automóveis “Nosso Posto”, do Teatro Amazonas, da igreja de São Sebastião e dos cinemas “Politeama” e “Guarani”.

Elevadores, social e de serviço, já instalados. Tem incinerador de lixo, para-raios, tomadas de telefone, rádio e TV, com válvulas de segurança, serviço preventivo contra incêndio e ainda duas caixas d’água. No térreo existem duas lojas.

Foto deste dia, obstruída pelas árvores


domingo, julho 06, 2025

POEMA PARA O DOMINGO

 

De novo, não encontrei dados sobre o autor desse poema – Osório Honda. Sigo buscando. Tudo quanto posso informar é que a peça foi escrita em 1956, mas, somente publicada em O Jornal, de 30 de maio de 1965. Acaba de festejar os sessentanos!




sábado, julho 05, 2025

BOCA DO IMBOCA - 1965

 

Raro há de análogo entre as duas fotos, que foram tomadas em idêntico ângulo, porém, defasadas em 60 anos. Hoje, restam tão-somente os resquícios da usina de óleos naturais, cujo prédio abriga a Creche Municipal “Madalena Arce Daou”, uma homenagem póstuma à esposa de Phillipe Daou, falecido fundador da TV Amazonas. No mais, carro, postes de energia e as casas da Boca e as “bocadas” deram lugar ao asfalto, ao lixo orgânico e humano debaixo da ponte e outras degradações.

Fotos em cores desta data


Publicação do Jornal do Commercio, de 19 setembro 1965

A “Boca do Imboca” abria a rua São João que, adiante, ao topar o Grupo Escolar Leopoldo Neves, se inclinava para a direita e tomava o nome deste ex-governador, adiante, em nova curva à direita e tendo como referência o clube Guanabara, mudava para rua Branco Silva, até seu término na av. Presidente Kennedy.

Ao professor Aguinaldo Figueredo, nascido e criado no pedaço, de quem solicito suprimento sobre a “Boca”. 

Boca do Imboca 

Na administração Vinícius Conrado não há bairros privilegiados. Entendendo que foi eleito para governar a capital do Estado, o chefe comunal não limita sua atividade a tal ou qual área, e abre frentes de trabalho sempre onde há necessidade. É este o princípio que adota, e em consequência, toda Manaus é beneficiada igualmente. Seja no cumprimento da simples, mas importante Operação “Tapa Buraco”, seja no calcetamento de ruas nunca antes olhadas, vai assim o prefeito Vinícius Conrado deixando seu nome ligado ao processo de embelezamento e urbanização da capital, sendo o aspecto fixado pelo clichê um exemplo: trata-se da entrada do bairro de Santa Luzia, que agora está sendo calcetada inteiramente.

sexta-feira, julho 04, 2025

LORD HOTEL MANAUS: 60 ANOS

 

Prestes a completar 60 anos desde sua inauguração em 1965, o Lord Hotel encontra-se desativado, as portas cerradas, impossibilitando qualquer movimento interno, assim o tenho visto. Apesar desse estado, li na internet que diversos sites de turismo ainda vendem hospedagem no Lord Manaus. São as amarguras do comércio. Que esta postagem recolhida do Jornal do Commercio (9 outubro 1965) sirva de grata recordação, de quando Manaus era um atrativo para as compras.

Recorte do Jornal do Commercio, 9.10.1965

 Novo “Lord Hotel”: Imponência e Beleza

Manaus possui, desde às 18 horas de ontem, mais um confortável e moderno hotel, sendo este o “Lord Hotel Ltda.”, de propriedade do sr. David José Tadros, edificado na esquina das ruas Marcílio Dias com Quintino Bocaiuva, tendo comparecido ao ato inauguratório, além de elementos de destaque das classes sociais da produção, conservadoras, hoteleiras, comércio e indústria, secretários de Estado e pessoas gradas, o governador do Estado, prof. Arthur Cézar Ferreira Reis, acompanhado de sua digna esposa, dona Graziela Reis, e a senhorita Maria Raquel Andrade, Miss Brasil 1965.

Cortou a fita simbólica, inaugurando o “Lord Hotel Ltda.” a primeira dama do Estado. sra. Graziela Reis, cabendo ao padre Jorge Normando, representando dom João de Souza Lima, dar a benção às instalações do novo Hotel. Falaram na ocasião o dr. José Lindoso, dizendo da satisfação do comerciante David José Tadros em entregar o novo e moderno Hotel ao povo, contribuindo para o progresso do Amazonas, e o governador Arthur Reis, que enalteceu o gigantesco empreendimento, que é a honra do nosso Estado, e que muito contribuirá para o progresso no campo de turismo.

Aos presentes foram servidos frios, quentes e gelados e todos ficaram maravilhados com as instalações do Lord Hotel Ltda., que possui 53 apartamentos, sendo trinta com ar refrigerado e cinco de luxo.

Nas fotos vemos, à esquerda, um ângulo do Lord Hotel Ltda., à direita, em cima, dona Graziela Reis cortando a fita simbólica, inaugurando o novo e moderno hotel; e, embaixo, o governador Arthur Reis cumprimentando o sr. David José Tadros proprietário do Lord Hotel Ltda., aparecendo, ao fundo, a encantadora Maria Raquel Andrade, Miss Brasil 65. (Fotos de J. Batista).

quarta-feira, julho 02, 2025

ANTONIO CARLOS VILLAÇA (1928-2005)

 

Quando em 2004 iniciei as pesquisas sobre a produção literária do padre-poeta L. Ruas (1931-2000), foi-me indicado pelo amigo comum, poeta Elson Farias, um livro de Antonio Carlos Villaça (1928-2005). “O Nariz do Morto” era o livro contendo uma referência ao Ruas, que foi colega de Villaça no seminário do Rio Comprido, em 1953. Entusiasmado, consegui conversar com o Villaça pelo telefone. Um único bate-papo. Vinte anos depois, pouco recordo de nosso papo, mas me ficou gravado o entusiasmo que ele possuía pelo “Ruas, de Manaus, um moreno inteligente, líder nato, falava muito bem mesmo, como poucos ouvi até hoje”.

Antonio C. Villaça (1928-2005)

Em janeiro do ano seguinte, lendo a coluna de Carlos Heitor Cony circulada em A Crítica, soube do fim de Antonio Carlos Villaça. E, passadas duas décadas, o texto vai postado em homenagem ao morto e ao seu colega, o falecido L. Ruas.

 

Detalhe da coluna, em A Crítica,
07 junho 2005

Antônio Carlos Vilaça

RIO DE JANEIRO - E assim mesmo. Morreu Antônio Carlos Vilaça, no sábado, 28 de maio. Apenas uma pequena informação, na seção dos anúncios fúnebres, noticiando o seu falecimento, providência de anónimos que o admiravam. Estava abrigado no asilo São Luís, destinado a idosos sem família e sem recursos, em fase de doença terminal. Durante algum tempo, por iniciativa de Marcos Almir Madeira, ocupava um quarto na sede do PEN Club do Brasil. Com a morte de Madeira, acho que foi despejado e foi parar num asilo. Vilaça escreveu uma obra-prima, “O Nariz do Morto”, que foi saudado pela crítica como ponto alto de nossa memorialística, colocado acima de Joaquim Nabuco, de Gilberto Amado e de Pedro Nava.

Na realidade, escrevia melhor do que todos eles, tivera apenas uma existência mais modesta, nada de espetacular em sua vida. Ganhou a mais alta láurea da nossa literatura, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, que já premiou Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Fernando Sabino e, neste ano, premiará Ferreira Gullar.

Poucos escreveram tão bem, tão limpamente e tão profundamente. Conhecia a literatura universal como um ‘scholar’, sabia de cor trechos e mais trechos dos clássicos, de Homero e Juan Rulfo.

Mas seu grande assunto era a santidade que não encontrou nas diversas ordens religiosas em que foi buscar o caminho não para se tornar santo, mas para entender a santidade dos outros. Fez noviciado entre jesuítas, dominicanos, beneditinos, buscou diversas ordens monásticas e até mesmo o sacerdócio secular. Na solidão, o grande crente parece que se tornou descrente de tudo.

A doença deformou-o, mas não afetou a sua lucidez, a ânsia de entender o homem. Morreu só. Se existe um céu, seja lá de que religião for, Vilaça estará nele, pela sua alegria e pelo seu sofrimento.

terça-feira, julho 01, 2025

HORA DA MERENDA: 1964

 

Hoje em dia, as bancas de venda de doces e guloseimas estão por toda a cidade, de forma que foi difícil encontrar uma correspondência exata com a publicação do jornal A Gazeta, que destacava essas particularidades na coluna Manaus em Foto. Expressões como “entala gato”, “morte lenta” e outros apelidos bem característicos foram usados por décadas, até que deixamos de chamar de “merenda” e passamos a usar o termo “lanche”, ... então, tudo mudou. A banca que aparece na foto servia à praça Tenreiro Aranha, na ilharga do antigo Hotel Amazonas. 

Recorte de A Gazeta, edição de 05 março 1964

UM “ENTALA GATO” MUITO CONCORRIDO

 

A fome dói, é coisa que todos sabem, por mais que seja bem-nascido. Quando vem aquele vazio no estômago, o jeito é desapertar.  E o bolo-de-macaxeira vem a propósito, pelas três da tarde, ou mais. Hora de merenda de quem trabalha e só pode “dar um pulinho”. Uns chamam de “entala gato”, outros de “comeu, morreu” ou “morte lenta” e mais nomes que [não] ocorrem no momento. Mas todos compram e se deliciam, que de fato é gostoso, bem feitinho, servindo até pra levar pra casa, num embrulhinho, pra completar a janta. (...)

Até o “bolo podre” também tem vez, como outras guloseimas. Tem freguesia certa e até selecionada. Fazem fila para comprar e, não raro, encosta um carro, de placa particular, pra uma compra ligeira.

O negócio vai aumentando e os compradores também. Todas as tardes o vendedor se estabelece, porque tem competência, na Teodureto Souto, pertinho da praça ao lado do Hotel Amazonas. E dizem que até turista estrangeiro, pra variar, ali comparece de quando em vez. Os graciosos chamam de entulho e lembram que o melhor tempero é a fome. Mas todos gostam e voltam.