CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

terça-feira, abril 01, 2025

L. RUAS: 25 ANOS DE FALECIMENTO (2)

 Hoje (1º de abril), completam-se 25 anos do falecimento do padre-poeta L. Ruas (Luiz Augusto de Lima Ruas), autor de Aparição do Clown, longo poema religioso, editado em 1958. Intentei realizar uma homenagem pública ao poeta, porém, fracassei. Lamento, mas a direção da arquidiocese de Manaus – procurada - não acolheu minha pretensão. A fim de reverenciar ao poeta, reproduzo (com ligeiras correções) o texto próprio que incorporei ao livro L. Ruas: poesia reunida (2013).

Minha paixão por L. Ruas

Possuo um raro privilégio: o vínculo escolar com o padre Luiz Augusto de Lima Ruas (L. Ruas), quando matriculado no Seminário São José, de Manaus. Ali, em 1956, alcancei o padre Ruas no frescor de sua juventude, ordenado sacerdote dois anos antes. Sapiente e entusiasmado demais com sua vocação, liderança comprovada em qualquer reunião de seminaristas. Versado em diversas matérias curriculares, ensinou aos futuros padres ou não de línguas vivas e mortas (latim e grego), passando por Gramática e Literatura Brasileira, Filosofia e Teologia. Seus inúmeros alunos da Universidade Federal do Amazonas lembram-se dele como mestre em Psicologia. No Seminário, ainda adolescente, não tive capacidade de auferir a ciência que dele emanava. Recebi de suas mãos o majestoso livro — Aparição do clown, longo poema religioso, quase indecifrável, de certo um marco na literatura amazonense. Mas, tudo isso somente compreendi décadas depois.

Em 2004, a cidade comemorava vários cinquentenários: de sua ordenação sacerdotal; da criação do apagado Instituto Christus; da inauguração da Rádio Rio Mar e da fundação do Clube da Madrugada. Para minha admiração, em todas estas organizações, Ruas havia participado, e de forma categórica.

L. Ruas morreu em 1° de abril de 2000, há vinte e cinco anos, portanto. A fim de homenageá-lo no limite de minha competência, projetei e estou cumprindo o recolhimento de sua obra literária dispersa nos jornais de Manaus. A propósito deste empreendimento, o saudoso Renan Freitas Pinto designou-me com a incumbência esdrúxula de "curador da massa literária” de L. Ruas. Devo confessar que a faina foi dificultosa, emperrada e, às vezes, desanimadora. Foi-me, porém, benevolente, por ter-me permitido comprovar a sapiência e a erudição do meu saudoso mestre.

Enfim, ainda encontro, aqui e ali, fuçando em jornais da época, alguma contribuição dele. A Poesia Reunida de L. Ruas, aqui organizada, objetiva não somente assinalar sua morte. Mas, e principalmente, revitalizar a arte otimamente praticada por ele. Espero ter cumprido satisfatoriamente o ônus assumido, e que o leitor se satisfaça com este conjunto de "estrelas e de pérolas".

segunda-feira, março 31, 2025

L. RUAS: 25 ANOS DE FALECIMENTO

 Amanhã (1º de abril), completam-se 25 anos do falecimento do padre-poeta L. Ruas (Luiz Augusto de Lima Ruas), autor de Aparição do Clown, longo poema religioso, editado em 1958. Intentei realizar uma homenagem pública ao poeta, porém, fracassei. Lamento, mas a direção da arquidiocese de Manaus – procurada - não acolheu minha pretensão. Assim, vou republicar algumas páginas do mestre, para cumprir meu desígnio.

Nesta homenagem, começo com as palavras do professor Marcos Frederico (doutor em Literaturas de Língua Portuguesa), expostas no livro L. Ruas: Poesia Reunida (Manaus: Travessia, 2013):

“Luiz Augusto de Lima Ruas (L. Ruas) é, sem qualquer favor, uma das mais expressivas vozes da poesia do Clube da Madrugada, essa agremiação que renovou as letras amazonenses da década de 50, no século passado.

Sem exagero, diria que seu livro de estreia, Aparição do clown, cuja primeira edição consta ter sido em 1958, o coloca entre os poetas com participação eficaz na literatura brasileira. Entretanto, não é conhecido nos meios acadêmicos brasileiros, porque poucos são os artistas locais que conseguem “furar” o bloqueio dos meios de comunicação e ser divulgados nacionalmente.

Graças a Roberto Mendonça, esse pesquisador incansável da obra de L. Ruas, temos agora a totalidade da produção lírica desse vigoroso artista. Além dos poemas de Aparição do clown, encontram-se também reunidos neste livro aqueles que constituíram o Poemeu, livro que, tendo sido premiado em 1970, só encontrou a luz de uma publicação em 1985.

Afora estes, encontram-se os textos que, circunstancialmente, foram inseridos em outras obras. Se não bastasse este trabalho, Mendonça ainda coletou produções inéditas do grande poeta, um dos quais – o poema “Mar” – nos mostra uma faceta original de seu trabalho: as técnicas do Concretismo.”

A seguir, um dos poemas coletados em Poemeu ou O (meu) sentir dos outros. 

SONETO (*)

Estas aves vêm sempre, ao fim da tarde,

Descansar seus remígios agourentos

No pomar de onde colho doces frutos

Com que faço meus vinhos suculentos.

Elas vêm de bem longe. Me olham sempre

Com desdém. E nas asas trazem ventos

Que uma vez, já faz tempo, naufragaram

Minha nave que nautas desatentos

Dirigiam. E estas aves que me espiam

Lá de cima das árvores crescidas

No pomar irrigado com águas verdes.

Bem conhecem meu fim. Vencido nauta

Pus-me, agora, a plantar frondosas copas

Que sugerem veleiros em meu canto.

 

(*) Também publicado na Seleta Literária do Amazonas, de José dos Santos Lins (1966).

domingo, março 30, 2025

DA POLÍTICA AMAZONENSE

 Ao final do segundo mandato do governador Gilberto Mestrinho (1983-87), tudo indicava que o sucessor seria o vice-governador Manoel Ribeiro. No entanto, como os caminhos da política são imprevisíveis, foi eleito governador o jovem Amazonino Mendes (1939-2023), e para confortar ao Ribeiro, este foi eleito prefeito de Manaus (1985-88). A postagem mostra um "santinho" distribuído pelo prefeito Manoel Ribeiro.




domingo, março 23, 2025

POEMA DOMINICAL E UMA TRAGÉDIA

Há 98 anos, em 22 março 1926, em acidente ocorrido no rio Solimões, foi a pique o navio “Paes de Carvalho” da frota da Amazon River, violentado por incêndio que resultou em considerável número de mortos e feridos, e amargurou sobremaneira o Estado. Na capital, a revista Redempção circulou ao final daquele mês em Número Especial, delineando a tragédia, a partir de informes dos sobreviventes.

O magazine encerrou seu editorial pondo-se “genuflexa nesta comovida homenagem, se irmana em sincera dor, em religioso respeito, em piedade, em solidariedade...” Enfim, trouxe para expressar aquele pesaroso momento o poeta Raimundo Monteiro (1882-1932), que assim versou:

Página da revista
                                FLAMAS

 

Aurora. Vermelhão de incêndio. Fogo e brados.

Ardendo no claror das chamas aurorais,

Como um louco tritão incandescente, o “Paes

De Carvalho” deslumbra os peixes assustados!

Circundando o vapor flamívomo, queimados,

Alucinadamente os ecos matinais

Despertando ao pavor de dissonâncias tais,

Morrem, na grande luz, seres desesperados!

Flamejantes florões festoando à tona d’água

Recordam, na ignição primeva, frágua a frágua,

Milhares de vulcões abrindo em rubros lises!

Alvorece. Ao rosear da antemanhã, lá no alto,

No longínquo azulor do céu que tanto exalto,

Vésper têm por brandão mortuário os infelizes...

 

Raimundo Monteiro