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domingo, maio 25, 2025

POESIA DOMINICAL (5)

O autor Mavignier de Castro (1891-1970), oriundo do Ceará e instalou-se em Manaus, “suas crônicas e poemas são expressivos de seu encantamento com a majestosidade e beleza desse universo líquido e verde”, que tão bem conheceu por suas andanças como promotor público, registra Tenório Telles e Antonio Paulo Graça, em Estudos de Literatura do Amazonas.   

Paisagem foi publicado no vespertino A Tarde, em 22| maio| 1960, há exatos 65 anos, na coluna Cartão Postal.

 



Baixa a tarde diluindo lentamente

ametistas, topázios e turquesas

sobre o debrum flumíneo da Amazônia.

Aí vem a noite com a sua visitação de escuros e silêncios.

Paisagem de quatro dimensões murchando vesperalmente

num sono antigo de lianas e raízes.

Cerra-se, úmido, o verde dos olhos dos lagos

e forma um só veludo com as árvores, os barrancos e os igapós. 

Céleres gaivotas esparsas vão confundindo

as asas como aspas solitárias

gizando as solidões fluviais que fogem. 

Debruça-se o crepúsculo sobre as águas,

a tarde quieta veste-se de sombras nas alturas,

e os homens vão recolhendo à mansuetude dos casebres

as almas cheias, maduras e leves

e a certeza intemporal de uma Presença

na fácil perfeição de todas as coisas.

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