CATANDO PAPÉIS & CONTANDO HISTÓRIAS

domingo, junho 22, 2025

POEMA PARA O DOMINGO

 O  poema deste domingo pertence à obra poética de Américo Antony (1895-1958). Tudo quanto aprendi sobre este poeta é que ele produziu número respeitável de poemas, publicados em jornais e revistas, e somente um livro: Os sonetos das Flores (em segunda edição pela Valer, 1998). Para ilustrar esta postagem recorri aos especialistas de nossa cidade, e nada sobre Antony. Desse modo, consulto o Dicionário Biográfico dos Acadêmicos Imortais do Amazonas, do saudoso Almir Diniz (2002), dispondo de notas biográficas costumeiras. “O poeta que pertenceu também ao IGHA (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) deixou publicado apenas um livro (...). E alguns inéditos – A Alma das árvores; Crisóis; Cromos Amazônicos; e Canções Perdidas. São famosos vários sonetos e outros poemas (A Fonte; Canção Campestre; Nova Messe; Manoa; Conory)”. Seu nome crisma a biblioteca da Fundação Doutor Thomas.

Recorte de O Jornal, 20 março 1946
 

A ÁGUA

-- I –

A Água, — uma serpente de cristal,

Faz-se em canais, em golfos, em caudais,

Em espelhos sobre o mar, e no canal

Paisagens de verão, frios hibernais...

 

Brincos em cada estema ao capinzal,

De ouro e diamante, — Aljôfares reais —

De um príncipe invisível, do ideal,

vozes da cor, do encanto dos cristais...

 

Mas, quando a água ferida em seu percurso,

Represada se infiltra, e um só recurso

Vê nas prisões da rocha, em fonte escura,

 

Chora as lágrimas claras do passado,

As emoções do seu cristal fechado

Na pensativa Selva que murmura.

-- II –

A Água, — a plasmadora das visões

Cristalinas da Selva, e do Universo!

Em reentrâncias de golfo, e nos grotões,

Animando o esplendor de um lindo verso!

 

Cambiar de perspectivas tão diverso!

Ânimo e sol da sombra aos corações,

Exuberância de um vergel disperso,

Voz do penhasco em córregos, canções...

 

Lagoa alegre e pântano sombrio...

Atmosfera e oceano, lago e rio...

Brejo e igapó... ânfora em solidão...

 

Chuva! transmigração da Água à alva nuvem,

E dela à terra, arco-íris de onde pluvem

Olhos de Deus nos prantos da Ilusão!


sábado, junho 21, 2025

GAROTOS DE ANTEONTEM

 Não tenho muito a acrescentar à legenda sobre os garotos, que buscavam, como buscam os nossos hoje, sucesso no futebol. Apenas que eles nos parecem treinar sem utilizar qualquer equipamento do esporte, apenas um calção e os pés descalços. Qual deles venceu, não há registro, salvo se um deles, aos 70 ou mais anos, reconhecer a turma. Torço que aconteça, pois o registro foi postado em A Gazeta, edição de 18 de março de 1964.

Jornal A Gazeta, 18 março 1964

 COMO SÃO BELOS OS DIAS DO DESPONTAR DA EXISTÊNCIA

Embora não corram pelas campinas, atrás de borboletas azuis, ainda andam de pés descalços, braços nus, principalmente quando chega a hora da pelada. Aí, cada um deles se sente um Pelé, Garrincha ou Nilton Santos em potencial. Para ser Gilmar, só na torcida, que jogar no gol ninguém quer, isto aí todos nós fizemos em nossos tempos de meninice, sem direito, porém, a retrato no jornal, que certamente será guardado para, na posteridade, lembrar os companheiros, com seus apelidos divertidos.

E estão na gravura, numa pose especial para “A Cidade em Foto”: Cobra, Amarelão, Nato, Colorau, Cabeção, Torpedo, Léo, Casqueta, Pé- chato, Mucura, Coelho e Tá-tá-tá.

O futuro, para todos eles, é uma incógnita, mas, enquanto isto, se divertem no campinho da sede do Nacional e se sentem uns futuros heróis dos gramados, quase uns campeões do mundo. Nada de nome completo com filiação e outras identidades. O gostoso é guardar os apelidos, para relembrar depois, quando forem grandes e tiverem vencido na vida. Com muitas saudades destes tempos ditosos que passarão céleres.  

quinta-feira, junho 19, 2025

MENINO, PAPAGAIO E FUSCA

 A tarde deste feriado religioso – Corpus Christi – estava propícia à prática de empinar papagaio de papel, que o modernismo trocou para pipa. Sol exuberante desde a manhã. Ao ler esta legenda revi minha meninice no bairro, repetindo mentalmente a escala de tarefas até levantar o “famão”. E relembrei outros fatos, um deles veio de pronto à memória, a presença de seu Manoel ao lado dos filhos, meu pai era exímio empinador de papagaio. Chega, mas não esqueça de anotar a placa do Fusca. Deixo aos aficionados, novos e velhos, a postagem publicada há 60 anos no diário A Gazeta (24 março 1964).

A Gazeta, 24 março 1964

UM “FAMÃO” SEMPRE TEM MUITA PERSONALIDADE

Não pense que seja fácil. Fazer uma “rabiola” de pano velho ou mesmo de papel, moer vidro, misturar com goma, passar o cerol na linha e suspender um “banda-de-asa”, qualquer um faz. Quero ver lá em cima, obrigar um “casqueta” qualquer, comprado no mercado ou feito às pressas no quintal de casa, dar umas “flechadas legais”. Daquelas de ir “buscar o chão”, mostrar numa “trança” que de fato é dos bons, que sabe dar por baixo, bem no “pé do peitoral” do outro, colher um pouquinho e... e queda!!! Ou então dar por cima e descair.

Quem nunca botou um “papagaio” não pode avaliar a beleza que aquilo tudo encerra. O bicho lá em cima, nos céus, obedecendo à nossa vontade. Manobrando de acordo com o nosso pensamento.  A intrincada combinação de puxavões na linha que uma “trança” requer, exige um grande esforço, físico e mental. O braço sofre, a vista fica doída, a imaginação trabalha. Pegar o outro pela “rabiola”, evitando a gilete, não é para qualquer um. E depois dos dois engasgados, o braço tem que ser bom pra colher e levar vantagem.

O menino da foto é um exemplo vivo daquilo que todos nós fomos, e que muitos ainda hão de ser: incorrigíveis empinadores de papagaios de papel, sem distinção de cor, credo ou posição social. No ar, todos se igualam. Do menino rico ao garoto pobre lá dos bairros distantes. Se obrigassem a todo “play boy” que anda por aí, fazendo o que não deve, a empinar papagaio, o mundo seria muito melhor. Tem poesia, desenvolve a inteligência, alegra o espírito. Por isso tudo, melhor que ninguém, o empinador de papagaio compreendeu porque aquele primeiro astronauta russo disse que a Terra é azul. E deve ter completado, sorrindo: com bolinhas cor-de-rosa.

quarta-feira, junho 18, 2025

PMAM: 1º CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS

Aconteceu no saudoso Piquete, quando abrigou o CIM (Centro de Instrução Militar), existente na rua Dr. Machado. Terá sido o primeiro curso deste jaez em 130 anos, pois até então o policial ingressava na graduação por curso PM ou advindo do 27º BC, já diplomado. A partir daí, as promoções ocorriam somente por antiguidade.



Esta turma, possivelmente em 1969, cuja fotografia emoldura o painel no Museu Tiradentes, obteve o privilégio de constituir a primeira turma. Os componentes estão relacionados observando a posição na foto (a partir da esquerda): Francisco Gaio de Moraes; Jonathas Pereira da Silva Neto; Luís Alves de Carvalho; Rossely de Araújo Bastos; Pedro Torres de Lima; Arnaldo Augusto de Souza; Marciano Maciel da Silva; Vicente Ferreira da Silva; José Rodrigues de Castro; José Rodrigues de Freitas; e Severiano Albano Martins.

terça-feira, junho 17, 2025

QUASE 80 ANOS

 Reunido com filhos e neta e nora para agradecer os votos pelos quase 80, hoje meus 79 anos. Grato igualmente às manifestações de amigos e parentes